Todos os dias ela acordava e n\u00e3o conseguia reconhecer o mundo a sua volta. Era como n\u00e3o fazer parte de tudo aquilo. N\u00e3o reconhecia filhos, netos, nem o lugar onde crescera. Mas quando se olhava no espelho enxergava uma menina, uma crian\u00e7a cheia de vida e sorrisos. O espelho era o \u00fanico que n\u00e3o mentia. Era o reflexo de tudo o que levava na alma.<\/div>\n
Vestidos coloridos, leves e cheios de vida. Unhas: Escarlate! Baton: Saudade! Maquiagem: Felicidade! Estava estampado em seu rosto e em seu corpo a vontade de sair e viver! S\u00f3 que hoje ela usava preto da cabe\u00e7a aos p\u00e9s. Sabia que era segunda-feira e que o cora\u00e7\u00e3o estava aos peda\u00e7os. As l\u00e1grimas que n\u00e3o caiam eram aquelas que j\u00e1 estavam tatuadas em seu rosto.<\/div>\n
Ela sabia que seu mundo estava desabando, mas seus olhos no espelho diziam o contr\u00e1rio. A sua alma estava fingindo? Para quem e por que? N\u00e3o havia sentido algum fingir para si mesma. N\u00e3o.<\/div>\n
Ela sabia que todos esperavam que ela estivesse arrasada. Ela sabia que era o que queriam dela e talvez fosse o mais coerente. Viver de acordo com os padr\u00f5es propostos por uma sociedade hip\u00f3crita… E agora, como sair desta teia de sofrimento armada por ela mesma? Reagir… “Fale comigo, espelho… Deus, fale comigo!”<\/div>\n
N\u00e3o havia respostas. As suas perguntas eram apenas ecos. \u00c0 sua volta estavam monumentos humanos que n\u00e3o reagiam aos seus atos. Nem ela mesma conseguia reagir a tantas indaga\u00e7\u00f5es. Precisava buscar dentro de si a beleza daquela maquiagem colorida de anos anteriores e que ela ainda via atrav\u00e9s do espelho. N\u00e3o sabia ao certo quando ou onde tudo se perdera, mas em algum lugar do escuro dos seus dias atuais, haviam cores estampadas.<\/div>\n
Reflexos de um um brilho perdido naquela segunda-feira chuvosa e repleta de sentidos. Sua alma transbordando em vontades nada expostas..<\/div>\n
(Dulce Miller e Suzana Martins \u2013 mar\u00e7o de 2009)<\/div>\n
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