6 on 6 – espaços em branco
Daqui do meu universo contemplo os espaços que desenham além de mim. Observo, daqui de longe, as pessoas dentro das suas histórias a caminhar pelas calçadas sem ao menos olhar para o lado. Vejo também os carros que passam apressados sem marcar qualquer pausa e outras motocicletas com seus barulhos ensurdecedores a desrespeitar o radar que registra velocidades. Os intervalos parecem ameaçados por eles que apenas passam…
Há sempre um lugar que me pertence dentro destas lacunas abstratas que se desenham diante de mim.
Ouso divagar pelas hipérboles do meus pensamentos que preenchem as minhas notas de ropadé…
O volume dos meus fones de ouvido abafa os pensamentos daquilo que está fora do meu alcance palpável. Mergulho no inconsciente das minhas letras e sinto a paisagem que debruça lá fora. Olho. Sinto. Precinto. Deixo o concreto frio colorir de branco o poema que canta em meus beirais. Tudo isso é um breve pulsar de espaços e tempo.
Nestas paisagens acumuladas lembro das minhas janelas pretéritas. Reflexos de céu, mar, vento, chuva e tantas outras letras desenhadas em imaginários de mim. Espaços a acumular o branco das minhas saudades.
Gosto do cenário que as estradas preenchem. O nascer do sol na colina é um deslumbre sem fim. As nuvens ocupam os hiatos deixados pela imensidão. O perfume do orvalho é um mero detalhe lúdico a ensaiar emoções. O que fica no caminho são as reticências que mergulhei no poema.
O sal rasga a cena e o branco mergulha no infinito da forma. O mar a lamber a areia reverencia seus espaços na imensidão atmosférica tingida de azul. O oceano é sempre uma miragem dentro das minhas lacunas. O delírio daquela maresia acumula em meus beirais a esquecer o concreto imerso no azul.
Permito-me aliviar a pressa nas lembranças recheadas de areia, na escrita rascunhada na varanda e na ilusão daquelas histórias esquecidas. Encaro a cidade e os espaços em branco são detalhes a precipitar todas as nostalgias que anotei naquele velho que deixei esquecido pelo caminho.
A cidade que me abraça é a mesma que apressa os meus passos e preenche as minhas melancolias agudas e as ausências marcadas pelo sal. Aprendi a observar outras histórias que são escritas no concreto de suas paisagens e nas entrelinhas que ocupa todos os vãos.
Este post faz parte do Projeto 6 on 6 e estão comigo nesta caminhada:
Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdúlio Nunes Ortega
Mariana Gouveia
Eu não sei se fico fascinada pelo texto ou pelas fotografias…
mas, em caso de dúvida, fico com os dois!
Roseli
Que mergulho delicioso em suas fotografias e delicadeza de texto. Gratidão por compartilhar conosco!
Suzana Martins
Ah menina Mariana!!! E eu fico fascinada com o seu olhar!!! <3
Suzana Martins
Obrigada Roseli!! Tão bom ter vc aqui!!