6 on 6 – Miss You
Aquela saudade aguda atravessa as lágrimas agridoces do meu existir. Pulsa em minhas artérias lembranças salgadas do litoral que visito quando a nostalgia arranca tudo de mim. Meu Porto Seguro a espiaar detalhes que moram em meus beirais.
Sinto falta de caminhar por aquelas ruelas tão simples e seus paralelepípedos irregulares. A delicadeza do cenário é quase uma missiva antiga a contar histórias daqueles que passaram antes de mim. As casas coloridas exibem o seu charme em uma rua cumprida que parece ter fim apenas quando encontra o canal. Ao entardecer, é possível registrar solombras que enfeitam a paisagem sem cerimônia alguma. A brisa das árvores centenárias, as que ainda resistem, exalam seu perfume que mistura água, areia e sal.
Quantas vezes sentei por ali e fiquei a escrever poesias e outros delírios. As anotações estão no meu velho baú, vez ou outra releio algumas dessas memórias. No dia desse registro fotográfico, eu estava sentada sob uma frondosa amendoeira, de costas para o mangue, a inventar personagens que ocupantes dessas casas.
Em outros momentos, eu esquecia a paisagem da rua colorida e ficava a observar a vida no mangue. Andava sem pressa. Perambulava por ali em total silêncio. Caminhava em estado de contemplação. Fingia até não entender de ponteiros. Os detalhes do manguezal sempre mudam a depender da maré. Confesso que prefiro os dias de maré cheia. Há sempre nuances de outono a perfurar a águas.
Passaria horas a escrever lembranças minhas e de outros sobre a rua do mangue… mas neste exato momento, a minha saudade é um pulsar introspectivo e silencioso.
Na ausência das palavras, o sol escorre pelas nuvens a colorir a paisagem e a viajar por outros polos. Na mesma cidade, no mesmo litoral, há centenas de saudades espalhadas pelo ar. À beira do cais: a brisa transforma-se em vento sem direções, a maresia lambe a derme e o dia vai embora devagar, esquecendo o tempo e todas as rimas de um poema solto. O meu ponto. O meu cais!
Perco-me nas entrelinhas do tempo e, mesmo e longe, sinto o cheiro do sal a percorrer as minhas entranhas. A ausência chega doer por aqui. Como diz Roberta Sá, “e se a dor é de saudade/ e a saudade é de matar / em meu peito a novidade / vai enfim me libertar.” Deixo o tempo escorrer e agarro-me na nostalgia fotograda em mim.
A maré encheu. Os arrecifes estão encobertos pelas águas. As árvores rasgam o céu a delirar vestígios dentro do azul. Perco-me nas infinitudes do tempo e ouço a melodia das ondas quebrar na praia.
A maré encheu. Os arrecifes estão encobertos pelas águas. As árvores rasgam o céu a delirar vestígios dentro do azul. Perco-me nas infinitudes do tempo e ouço a melodia das ondas quebrar na praia.
Deixo aqui todas as minhas melancolias. Encaro as lembranças do mar, das nuvens em mareia e dos arrecifes moldados pela água. Em minha memória o som das águas a abraçar a areia e o sal a perfumar a derme. Sou urbana e as minhas nostalgias são ressacas de tempestades litorâneas.
Este post faz parte do Projeto 6 on 6 e estão comigo nesta caminhada:
Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Roseli Pedroso – Obdúlio Nunes Ortega
Mariana Gouveia
Que delícia passear com você! Já acompanhei suas viagens através de postagens e posso dizer que fui contigo todas as vezes.
Abraço carinhoso <3
Lunna Guedes
Fiquei a pensar no seu livro e nos versos que surgiram a partir dessas paisagens… Fui passando foto por foto, como se fosse um álbum de vida-momento-versos. Uau. Acho que vou continuar a missiva iniciada há pouco, de mãos dadas, atadas as tuas, num caminhar ritmado por lugares seus-meus-nossos.
Grazie pelo navegar, cara mia
Suzana Martins
Ah Menina Mariana, é tão bom ter você comigo!! <3
Suzana Martins
Cara mia, seguro nas tuas mãos e sigo entre missivas, saudades e fotografias…
beijos, Lu!! <3
OBDULIO NUNES ORTEGA
Suzana, obrigado por me trazer a lembrança de exatamente um ano antes, quando estive em Paraty. Achei bem semelhante a imagem do casario e cheguei a sentir o cheiro do sal marinho, impregnando as minhas narinas de vida, Tenho a intenção de ir a Porto Seguro em breve, já que tenho conhecidos que o frequentam.
OBDULIO NUNES ORTEGA
Suzana, obrigado por me trazer a lembrança de exatamente um ano antes, quando estive em Paraty. Achei bem semelhante a imagem do casario e cheguei a sentir o cheiro do sal marinho, impregnando as minhas narinas de vida, Tenho a intenção de ir a Porto Seguro em breve, já que tenho conhecidos que o frequentam. O que suas imagens e palavras apenas assanhou.
Suzana Martins
Ah Obdúlio querido, que bom saber das tuas sensações!! Fico extremamente feliz!!
Espero que, quando fores a Porto Seguro, a sua passagem por lá seja incrível!!
beijos