#7 – é amanhã
“Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo”
[Cecília Meireles]
Aeroporto de Guarulhos
31 de Agosto de 2011
13h45minAs despedidas machucam alguns sentimentos que se prendem em determinadas estações. Não sei ao certo o que seria bom ou ruim em determinados momentos, mas digo que despedir é algo que machuca além da alma. São lágrimas que escorrem em momentos que ficam distantes do presente, e, absorvem um pretérito de sensações. Todos esses dias se transformam em porta retratos de uma estante de saudade, num instante vivido e apreciado em todos os detalhes…
Devo sofrer de alguma lágrima precoce, pois o meu coração dispara numa saudade desenfreada de versos abstratos e contemporâneos, quando as despedidas se aproximam de minha derme. Na tranquilidade dos momentos descubro-me em meio a certos pontos de partida que se petrificam dentro de mim. Abstraio-me num sentir povoando até a sétima conduta de um viver eterno e propagando as circunstâncias. Queria apenas as letras adjacentes de um plural ilógico.
Despedir é algo que não deveria existir em nosso tempo verbal. A despedida sangra o coração arranhando as entranhas e a derme, que sente a ausência fotografada em rimas fáceis… Encontro-me aqui, num saguão de aeroporto distanciando do ontem e pensando num amanhã que escorre dos meus olhos imitando as lágrimas de um pretérito bem vivido.
Não sei se seria muito trágico apagar certas palavras dos verbos, mas sei que o sentir não se apaga, pois as memórias ficam vivas num final de tarde ao tocar aquela canção que o vento sussurrou nas ruas da paulista. Não tem como não viver certos momentos, nem como despedir de uma saudade que se prepara para outra longa saudade de tantos outros momentos…
Havia muitas nuvens no céu quando cheguei aqui, e há tantas outras nuvens enquanto me despeço. Acredito que não ver a cidade ao embarcar e desembarcar é sinal de que despedir daqui é algo impossível. O adeus em meio aos versos dialogados num solitário caderno de páginas amarelecidas, não pode ser escrito quando não se vê a cidade. Não me conformo em não ver São Paulo de cima, mas me conformo em não precisar despedir desse mundo que habita dentro de uma única cidade…
São Paulo conseguiu me encantar com um simples vento garoado numa Paulicéia escrita por Mário de Andrade em suas cartas a todos nós. Ouso dizer que Mário escrevia pra mim, e hoje, conheço e admito que eu sou completamente apaixonada por São Paulo, porque ele um dia, há muito tempo atrás, resolveu compor tantos versos que serviriam para eu conhecer essa metrópole que vive dentro de um mundo de versos que são apenas meus.
Não serei egoísta em guardar tudo isso dentro de um livro de duas páginas, mas tentarei escrever os outros poemas deixados num caderno que ficou no meio do caminho… mora em mim todos os anseios e descobertas dessa cidade que me conhece pelo avesso.
São Paulo que está dentro de mim…
Suzana Martins – Última página
Não esqueçam, AMANHÃ 25 de Agosto, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima é o lançamento Diário das Quatro Estações, estarei com o livro Última Página.
Quer saber por que Última Página? – Então, clique aqui!!
P.s.: Esse post faz parte da série de matérias pré lançamento do livro ‘última página’.
Leia os post’s anteriores:
Eraldo Paulino
Nossa… parece que estou distante há pelo menos cem anos rs
Quanta novidade boa. A sensação que eu tenho aqui é que sua vida está respirando novidade.
Que bom que isso continua te inspirando a ser ótima.
Bjs, querida. No asfalto ou na maré! =)