Por Suzana Martins e Lunna Guedes


Ela tinha olhar de cigana, menina-mulher, daquelas que se vestem de malícia apenas para esconder o cabelo atrás das orelhas. Ela era meiga, doce. Quando não observava o chão em busca de passos, estava com o olhar à meia altura em busca de outros olhares e suas verdades. Olhos indecifráveis. Verdadeiros, porém indefinidos. Interpretativos. Um espelho, ou a alma refletida nele. Um olhar capaz de despir o outro que acidentalmente descobria seus olhos ali…

Saber o que acontecia naquele avesso era quase impossível. Ela não se revelava ao outro que chegava, que pensava descobrí-la. Óculos escuros. Olhos que ficavam coloridos, mesmo em dias cinza. Sentimentos maquiados. Maquiagens que vestiam seu olhar feito de silêncio. Mas do lado de dentro trazia tristeza, inquietação e uma saudade marcante.

Saudade cor de chocolate, ou simplesmente alaranjada tal qual um pôr-do-sol no parque, na praia, no mundo… As pinturas misturavam-se naquele olhar perdido no tempo, num vazio cheio de cifras, e na procura do brilho natural das coisas. Pupilas saudosas, ritmadas em compassos que sabiam desviar-se quando uma lágrima teimava em cair.

E na dor, o espelho de sua alma ficava vazio. Embaçado, feito névoa que se acumula depois das lágrimas. Seus olhos avistavam um mundo invertido – só seu… Onde sofrer e amar eram sinônimos. Contudo, para o mundo alheio, seu olhar era o mesmo de antes, de cigana a revelar e expor o outro!