Todos nós estamos sofrendo muito com todo esse calor dos últimos dias. O sol tem castigado bastante, e os dias tem se tornado cada vez mais quente. E eu fiquei pensando naquelas pessoas do sertão, que sofrem, desde sempre, com a seca, com todo esse calor… é uma seca que não tem hora e que castiga repetidamente. E fiquei me perguntando: “como será que está o clima no sertão agora?” Com certeza muito mais seco que os outros dias.

É triste ver aqueles rostinhos infantis implorando por água, ou aquelas mães que não sabem o que fazer para alimentar os seus filhos, e os pais que saem todos os dias para buscar um pouco para poder sobreviver… A seca realmente castiga. E a cada dia que passa eu tenho mais certeza: a água salobra do sertão é justamente o suor das mãos que nele trabalham.

Eu me lembrei de um poeminha que escrevi há mais ou menos seis anos atrás. Ele foi escrito enquanto eu lia o livro Vidas Secas do Graciliano Ramos, e essa foi uma história que mexeu muito comigo. Talvez escrever essas palavras foi uma maneira que encontrei de homenageá-lo.

Eis o poema:

No sertão a vida morre

Não há o que é bonito

Com o que se vê, se sofre

O homem anda faminto.

Animais perdem a vida

Mas nem tanto quanto o chão

Que nem um grão germina

Não há de ter produção

O homem se castiga.

Engana-se, vende o que tem

Faz suas malas, emigra

Viaja sem nenhum ‘vintém’

Não se sabe o que é pior

Ficar e sofrer a dor

Ou quem sabe procurar

E ter moléstia maior

Enquanto anda sem destino

Alimenta-se a esperança

Às vezes esse desatino

Martela-lhes na lembrança.

Não sabe onde vai passar

As almas parecem neutras

Procuram algum lugar

Mas só encontram “vidas secas!”

(Suzana Martins  06/11/2003)