Canção de Outono

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

Talvez encontre flores no caminho
e nelas eu possa tecer o meu sorriso.
Foi entre ondas e areias
que descobrir o invertido paraíso.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

Eram pessoas vazias de si mesmo,
solitárias, desesperadas e sem canções.
E entre folhas secas caídas no chão
não entendiam a beleza das estações.

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão…

Elas partiram e voaram para longe,
inerte as minhas lágrimas de solidão!
Ventos, chuva, tempestades
eram as folhas caídas no chão.
O coração chora em súplicas:
Se mereço, perdoa-me!

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
– a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão…

 

Eu sou a folha caída
que de saudade chora.
Tantos outonos cantados,
das folhas que voaram
dos verões que se foram
e das primaveras que choraram.
Perdoa-me folha seca!
Minhas lágrimas não foram em vão
se chorei, foram lágrimas de solidão…

*E no outono a gente brinca, inventa, canta, chora e “escreve” com Cecília Meireles… Esses versos foram escritos num guardanapo em um bar de Caraíva, depois que um amigo recitou Canção de Outono. Isso que eu chamo de embriaguez poética.