Então tudo isso chegou ao fim!  Depois de um longo e silencioso inverno, declaro o final do meu silêncio prolongado. Assumo todas as irresponsabilidades cometidas e admito que eu seja o ser mais frágil da face da terra. Uma face que se mostra rubra e esquecida daqueles valores morais ensinados por alguém que tem força.

Sou humana, aquela que sangra a cada pequeno golpe e que insiste em prosseguir pelo caminho cravejado de espinhos e pelas estradas que possuem pedras e pequenas vielas, ruas sem saídas e um bosque onde o amanhecer nunca chega iluminado…

Trago em meu corpo as marcas que são muito mais que arranhões, são cicatrizes alojadas em minha carne. E a cada movimento, por mais leve que seja, sinto que ainda existem espinhos que se entranham acompanhados por uma dor que tento silenciar. E esse sofrimento não é dos meus espinhos, e sim da sua coroa no qual silenciosamente aceitei colocar sobre minha cabeça…

Por onde passo espalho espinhos que caem da minha cabeça juntamente com o sangue que escorre pela minha face. Cada movimento vai aumentando a minha dor, mas que cinicamente disfarço alegando que procuro apenas o caminho de saída do bosque. Caminho esse que se encontra todo manchado pelos fios dos meus sangramentos silenciosos.

Não espero pelo tempo, aquele tempo que esgota forças e sangras muito mais as dores que outrora parecem cicatrizadas. Recuso-me a permanecer imóvel só para não me perfurar, deixo de lado as tolices que escuto diariamente e os conselhos prontos que servem apenas para aumentar a dor. Mas também, hoje, vou deixar de silenciar a dor de cada espinho que penetra em minha pele…

Toda essa sensação desagradável que me assola ao ver escoar cada gota de sangue vivo que vai gotejando o chão coberto de espinhos silencia quando recupero as minhas forças nas solidões de minh’alma. Uma dor que tomou conta daquilo que sou, mas no final não sou muito mais que uma dor…

Eu sei que posso me encontrar em trapos e aparentar não passar de um conjunto de feridas e cicatrizes… É como ser espinhos, fazer parte daquela coroa que fere a face de quem a usa. Porém, todo o espinho protege algo extremante delicado, algo que tento proteger de ti e de mim. E hoje, vou continuar a dilacerar-me para tentar impedir que prossigas com a destruição do pouco que ainda resta de mim e tentar opor-me à minha autodestruição.

O silêncio foi quebrado, e encontrei a saída do bosque… Há um sol iluminando do outro lado, mesmo que as cicatrizes estejam ali para mostrar que houve dor enquanto caminhava.