Há dias que ele tentava aliviar o seu coração deixando as palavras escorrerem pelos dedos ou pela voz. Mas esses abafados verbos teimavam em sufocá-lo e não espalhavam nada. Apenas confundia-se num ritmo alucinante, que os seus olhos sangravam e a alma rasgava-se em pedaços. Sentimentos em estado de decomposição, putrefato em lágrimas.

– Para que tanta palavra se nenhuma delas tem valor? Elas não alcançam o coração e a vontade de ninguém… – Eram os fragmentos que ele trazia em seus pensamentos.

Ele falava e escrevia apenas versos tortos e sem sentido, completamente confusos. Nunca deixava expostos os seus sentimentos e suas solidões, apenas absorvia todas elas comprimidas num coração que não sabia onde estava.

Era o vazio dos sentidos que estava sempre presente em suas vontades, em suas palavras e até em outras histórias…

O barulho de antes não incomodava mais. Ele estava inerte a tudo, apático ao tempo e as suas palavras. Todo aquele passado que se fazia presente, transforma-se em controladores do dia…

– Droga de palavras inventadas que brincam de arrancar sorrisos. Droga de sentimentos que se vestem da presença ausente, mas que constantemente incomoda. – Os pensamentos fragmentados gritavam dentro daquela alma rasgada…

As palavras não escorriam pelas suas laterais. O som estava abafado. Sentimentos mudos que não eram versados…

Sem olhar para trás, nem para as palavras confusas que se perdiam no tempo, ele caminhava lentamente pelos trilhos de sua vida e sentia a dor que sangrava de seu coração. Mas onde batia aquele coração?

(05.05.2010)