Noite de outono, ventos gélidos de inverno.

Sobre a mesa: uma taça de vinho tinto misturando-se com as folhas e a falta de palavras. Acendo um cigarro e em algum lugar Cazuza rasga versos em forma de música e traz saudades para perto de mim.

A casa está em silêncio e eu me encontro aqui, entre folhas em branco e uma caneta que transcreve cartas que não sei quando voarão até ti.

Está frio lá fora e chove dentro de mim. É o outono que desenha formas estranhas que se aproximam do inverno. Coisas de uma saudade que pulsa todas as horas, por isso eu não tenho contado datas, deixo apenas o outono (aquele que você tanto gosta) suavizar sentimentos em mim… Solidões e silêncios que absorvem palavras que precisam ser ditas.

Queria mesmo era pode falar olhando em seus olhos e tirando as palavras do coração… Mas o que tenho aqui são apenas as suas palavras em letras de forma, registradas em cartas antigas. E enquanto leio a minha saudade em suas palavras, o vento entra pela minha janela e traz o seu aroma que eu perdi eu algum lugar…

Há papéis e cartas que preciso escrever para ti, porém não há palavras, nem letras. O que eu tenho aqui são saudades acumuladas durante o tempo que se misturam ao silêncio e a nossa música que continua tocando seguindo o embalo da chuva…

Começo com as mudanças… Mudanças que envolvem tempo, datas, sons e letras…

Mudei. Mas isso não quer dizer que abandonei os velhos hábitos. Há muitos deles ainda em mim. Como por exemplo, o de escrever cartas. Mas isso você já sabe e conhece muito bem… Mas as datas? Ah… Essas, em alguns momentos aparecem, porém estou tentando deixá-las de lado. Não sei te explicar o porquê da mudança nas datas, mas o que posso dizer nesse momento é que eu não sei que dia é hoje e por alguns segundos confundo-me com o amanhã ou com o ontem. Sei apenas que é outono… Noite fria de outono.

As palavras ficaram hipnotizadas no tempo e no outono que corre lá fora, quem sabe a sua espera? A sua procura? Não saberei explicar questões que eu invento, porém desenvolvo rotinas misturadas nas repetições de palavras… Repetições que abraçam introduções desnecessárias…

Rotinas e introduções são desnecessárias, rs.

Hoje eu sei que o outono é realmente mágico, ele reúne todas as estações do ano num único dia. Foi isso eu aprendi com você enquanto caminhávamos descalços na areia. No entanto não há estações em mim. Procuro-as em suas cartas e no seu aroma que o vento insiste em trazer, porém, não te encontro aqui…

Estás tão longe de mim e tão perto das minhas saudades…

Não sei mais o que escrever enquanto toca a nossa canção… Esses acordes invadem os meus sentidos e trazem lembranças em preto e branco para perto de mim. A saudade machuca e as cartas ficam repetidas. Mas o que posso fazer, se a caneta insiste em escrever para ti, mesmo com freqüentes repetições. (?) Há versos por todos os lados, há canções e ventos que trazem você para perto de mim, porém, são apenas lembranças e as cartas é uma maneira de amenizar a minha dor, pois os versos que circulam por aqui são seus…

Mas tenha certeza de uma coisa: mesmo que haja repetições de verbos as estações sempre mudam, e o tempo traz a mistura de uma natureza sentimental que me lembra você. Ainda há folhas em branco, ainda há música, mas não há palavras, o vinho escorreu com as lágrimas manchando um pouco o papel…

Não se preocupe você entenderá… Ainda toca a nossa música…

Escorre chuvas dentro e fora de mim. Resta-me apenas observar da minha janela na esperança de ver você chegar.

Segue as folhas em branco, rabiscadas com vinhos e chuvas…

Um abraço com cores de outono, cheiro de chuva e beijos de saudade…



Alguém.