“Não me peças que cante,
pois ando longe,
pois ando agora
muito esquecida.

Vou mirando no bosque
o arroio claro
e a provisória
flor escondida.”

(Cecília Meireles)

Cecília Meireles desperta em mim as melhores sensações que existem…

Entre as horas que correm apressadas num dia de sol, finjo ser outono nessas palavras que respiram maresia e imitam uma brisa serena retardando as horas que correm sem limites. Perco-me num desenrolar de versos metafóricos descobrindo a cada estrofe, um ponto e vírgula que se encaixa nessa nostalgia sem fim. É o encontro dessas reticências que vai perdendo a calma de tempo e vai acelerando cada acorde que toca no violão.

Dentro de mim, a lógica imita fórmulas que diferem das letras que vão nascendo entre os dedos. Essa estranha órbita que pausa a intuição e que suplica letras que se misturam entre as canções e as folhas espalhadas pelo chão. No entanto, os sonetos de Cecília perdem e encontram dentro de mim caminhos que estão além do pôr-do-sol que nasce agora em minha janela.

Encontro-me nas reticências dessa que faz minha alma chorar e sorrir. É uma mistura frenética de sentimentos que alternam entre outonos e invernos, poemas e canções…

Há alguns dias atrás recebi versos de Cecília das mãos da minha querida Lu Guedes, e a cada pedido da alma vou devorando essa leitura com sabor de chá de pêssego que mescla um mundo calmo com esse que vai cada vez mais veloz; e nesse contra tempo, eu vou contrariando as horas que insistem em ultrapassar esse verão de noites estreladas…

São coisas da vida ou até mesmo coisas de um poema que realiza essa vontade de derramar versos em meio à confusão das letras.

“E procuro minha almae o corpo, mesmo,
e a voz outrora
em mim sentida.

E me vejo somente
pequena sombra
sem tempo e nome,
nisto perdida
– nisto que se buscara
pelas estrelas,
com febre e lágrimas,
e que era a vida.”

(Cecília Meiles)

*Poema de Cecília Meireles “Realização da Vida” in Mar Absoluto/Retrato Natural p.63