As horas passaram feito tempestade pelos meus ponteiros
incendiando um tempo que não atravessa paredes;
horas mórbidas, horas frias, horas incontáveis
que atropelam os oceanos em raios e trovoadas…

Despeço-me apenas dos segundos
sem poder contá-los.
Onde está o tempo?
Onde as horas foram parar?

As lágrimas escorrem
feito saudade mal arrumada
numa noite de lua cheia
machucando o tempo e sangrando
a dor das senhoras que esperam no portão.

– Ó doces senhoras,
perdoai o tempo que avança contando a pressa cor de rosa!
– Esperem no portão esta saudade machucada,
mas não conte com a paciência do tempo,
nem conversem com o calendário!

As horas correm feito tempestade aliadas ao trovão!
As horas findam e desafinam um tempo que rima e chove.

Chora amargurado tempo veloz
esquecendo os punhais que travaram lutas pretéritas.

Doces são horas, amargura é a voz
que esquece os ponteiros de um samba meu…

Corre… Corre apressado tempo
que atravessa eternas dimensões!

[Suzana Martins]