#2 – eu escrevo em diários

Se eu fosse apenas

“Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!
Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!
Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
– de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa…”

 (Cecília Meireles)

Imagem: weheartit

..: Máquina de escrever :..

Não saberei explicar os motivos que me levaram a escrever em diários. Acredito que nasci com isso em meus beirais. Um toque de seda, alguns sentimentos infantis em desenhos de árvores e tantas outras vontades da adolescência fizeram com que as minhas letras fossem rabiscadas num diário qualquer. Depois, de algum tempo, os livros que li e tantas poesias que nasciam intimamente foram decorados nas páginas das minhas agendas. Alguns sem datas, e tantos outros sem previsões, apenas sentimentos expostos e rasgados. Sim, eu escrevo em diários, e dentro de cada rabisco meu, existe um aglomerado de sentimentos despedaçados; há também outras sensações que busco manter acesas em meu exterior. Escrevo para expor em minhas entrelinhas, e, às vezes, eu deixo a alma exposta, ou então deixo a mostra outros sentimentos rasgados em meus lados opcionais. Se eu fosse um livro, deixaria aberto em páginas em branco para escrever apenas os poemas que, um dia deixei de recitar. E se por acaso, eu fosse um diário, nele escreveria últimas páginas em eterna construção…

Porto Seguro, 07 de Julho de 2011
04h36min

Imagem: weheartit

Rendo-me ao encontro de inúmeras vozes que cercam momentos onde as palavras silenciam qualquer sotaque. Entrego-me, por inteira, nesse universo desconhecido onde os dias de sol e as noites de breves chuvas fantasiam sentimentos confusos.

Esqueço qualquer tipo de probabilidade que pode ser dita ou escrita entre os cadernos amarelos, e, perco-me entre conversas regadas a sorrisos, café e algumas fumaças de cigarro. O conhecer, o abraçar, o entregar-se a uma nova amizade é uma surpresa calculada sem números, nem métrica.

A grande verdade é que nesses encontros de amigos distantes, não há matemática perfeita, dizem que talvez, possa ser a química. Pois, bastam alguns pequenos olhares, algumas canções tocadas entre o vento, para que essa tal química – a qual eu chamo de afinidade – sobressaia entre corações que pulsam sentimentalismo.

É; eu realmente não sei!

Não entendo dessas ciências exatas que calculam, ou pelo menos tentam computar essas afinidades, e, nem compreendo esse amontoado de números esquisitos que querem, ou, pelo menos tentam reger algo que nasce dentro de nós. Sentimento é humano, e não exato!

Rendo-me a essa mistura química de olhares que se encontram numa canção no fim da tarde. Rendo-me a essa sentimentalidade completa de verão e inverno, tão distante e contraditório, mas que se abraçam em alto mar. É o encontro, o abraço de seres que se conhecem em apenas cinco minutos, mas que carregam nesse gostar o tempo de uma vida inteira.

Não, isso não pode ser químico. Talvez tudo isso seja um amontoado de sentimentos completamente desconhecido e indescritível. Isso é sensibilidade, por isso, rendo-me ao olhar e ao encantamento de uma amizade que sai do rascunho para um projeto de canção inteira…

Fico pensando nesse atropelo que caminha dentro de mim.  É emocionante deixar-se guiar pelo coração, é como se metade de mim fosse uma dessas vielas de encontro. Tem de tudo e todos por lá, mas o que prevalece é o abraço, e, o sentimento que traduz algo que ultrapassa ele mesmo.

Rendo-me diante de tal confusão sentimentaloide e perco-me nos caminhos que encontro dentro de mim. Abraço o desconhecido e entrego-me totalmente a essa amizade que descubro em meio a tantas músicas de saudade…

Rendo-me, sem cálculos e sem ciências exatas, no entanto, descubro-me entre a ciência humana da sensibilidade!

Nota: nesses dias de encontros eu pude descobri, em mim, sentimentos que há muito tempo não eram rascunhados. A minha derme encontra-se sensível e feliz, atravessando um oceano inteiro de sorrisos e compartilhando uma vida a qual posso chamar de bela. Não precisa entender essa nota, querido diário, isso é um cálculo exato do meu sentir, é uma contradição!

Última página,
Suzana Martins

Imagem: divulgação

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P.s.: Esse post faz parte da série de matérias pré lançamento do livro ‘última página’.

Leia os post’s anteriores:

‘Última Página’

#1 – meu diário