By Luana Diniz
E essa embarcação hoje está sob o comando da Lucca
Que se tenha vida quando se tem idade
Desde quando a Su me convidou para escrever um texto para o Nossas Marés, eu já sabia sobre o que eu escreveria. Mas só mais de um mês depois, após chegar da casa do meu tio querido, me dispus inspiradamente a escrever.
Meu tio fez recentemente 76 anos e é irmão da minha mãe, que tem 68. Nenhum dos meus amigos tem pais que já chegaram à terceira idade, por isso raramente algum consegue entender a preocupação que ronda a minha singular experiência. Quando eu era mais jovem, eu temia como lidar com a minha mãe numa idade mais avançada, ainda mais porque fica-se naturalmente mais frágil, caixas de remédios dividem o lugar das gavetas com roupas e documentos amarelados.
A minha mãe também temia. Temia não me ver ‘grande’ e sempre se/me agourava com um ”quando eu não estiver mais viva, você…”, desconsiderando expectativa de vida ao nascer, IDH’s e quaisquer índices não empíricos. Outra coisa que ela sempre temeu foi ser abandonada tão logo ficasse velha. Se assustava com histórias de velhinhos que foram deixados por familiares em asilos e nunca mais tiveram notícias de parentes; e, para compreender a reação dos filhos e espectar se os mesmos seriam capazes de cometer o mesmo crime, repercutia tais causos a mim e a meus irmãos num tom de receio.
Eu, numa sensibilidade sem tamanho, sempre me ponho a criticar quem toma esse tipo de atitude. Por mais que existam boníssimas casas de repouso, há desumanidade em fingir que uma pessoa que fez parte de sua vida, que é alguém que precisa de mais carinho, não existe mais. Às vezes, penso em como eu me sentiria se um filho, um parente fizesse isso comigo. Não está se entregando um vaso de planta a uma outra casa, entrega-se uma pessoa que pensa, repensa, sente e ressente um vão em sua vida.
E, se me disserem que é melhor entregar o idoso a uma instituição a maltratá-lo em casa, desacredito mais ainda na humanidade. Pois dá no mesmo. Há maus tratos psicológicos e físicos!! Maltratar um idoso, uma criança, um deficiente ou qualquer indivíduo inábil de defesa não é opção. Respeitar, em quaisquer circunstâncias, não é pedir demais, nem de menos.
A vida para um idoso em sociedade é limitada em si. Há um Estatuto do Idoso vigente para uma sociedade indiferente. E, voltando ao exemplo da minha mãe, em diversos momentos, ela chegou em casa revoltada porque desconsideraram os direitos dela e até a humilharam. Então, quando um motorista a ignora num ponto de ônibus porque é dispensada de pagar a passagem, ela se pergunta quantas pessoas acham que nunca chegarão à terceira idade.
Mas, de todos os males e desrespeitos, o que de fato me inspirou a expor um pouco a minha angústia foi a delícia de poder conviver com meus idosos. Hei de compará-los a crianças que desejam atenção e carinho. Como são testemunhas e partícipes de uma vida inteeeeira, as histórias, por mais repetidas que pareçam aos que convivem diariamente, para os protagonistas tem sempre um sabor de novidade, de inocência, de originalidade e de, principalmente, sabedoria. A vida não é a que a gente viveu e sim o que a gente recorda, e como recorda para contá-la. (Gabriel García Márquez)
Em alguns momentos, quando eles lamentam que não se pode voltar ao tempo para fazer diferente, chego a lembrar de outra célebre frase do García Márquezque revela: “a sabedoria nos chega quando já não serve para nada ”. E, já que não tem mesmo como voltar, que devemos agradecer aos que já fizeram tanto por nós, que nos deram a oportunidade de estar aqui fazendo e agir para que valha à pena a vida que ainda lhes resta.
Ah, como mamãe costuma responder ao próprio questionamento de se pessoas acham que nunca chegarão à terceira idade, é bom saber: “se não morreu de novo, de velho é que não há de se passar”.
Luana Diniz
Luana é jornalista, freelancer da vida, facilmente conquistada por uma coca-cola, por um chocolate e por Elis Regina. Não troca uma conversa de bar com amigos nem por um menage a trois.
De clássico, ama filmes e detesta remakes. De clássico ainda, ama dar sete pulinhos nas ondas do mar e isso já passou de superstição.
E, por falar em tanto amar, tem medo de nunca deixar de se apaixonar.A Luana Diniz que também é Lucca escreve aqui, no #freelanceando.
Suzana Martins
Lucca, minha querida!
Fiquei feliz demais com a sua presença aqui, feliz mesmo. Mesmo eu te perturbando via email hoje com as minhas lerdezas, rs e vc louca de vontade de me matar via twitter… hahahahaha…
Obrigada mesmo Lu!
……………
Sabe eu sempre me peguei pensando em como seria a vida depois dos 60. Eu acho que os idosos são sim a melhor idade, pois trazem até a nós a experiência de dias vividos e muito bem vividos. O papai tem 60 anos e a mamãe 58, jovem casal que tem muito a ensinar, sabe?! Os dois curtindo o momento deles, a vibe deles, sempre tão jovens. E a mamãe sempre fala, eu tenho todas as idades possíveis, sou uma criança, sou velha chata e sou uma adolescente descobrindo a vida. E é memso, viu?! rs… Adooooro a minha adolescente, ela tem mais pique que eu… hahahahahahahaha….
Sim, eles serão sempre crianças precisando de carinho!! Adoorei!!!
Luaninha querida, muito obrigada mesmo, obrigada por se fazer presente aqui!!!
Beijos!!^^
Tatiana Kielberman
Oi Luana! Seja bem-vinda por aqui!! É muito legal ver pessoas tão interessantes neste espaço que adoro tanto!
Se já é amiga da Su, se tornou minha também! =) Estou te seguindo no Twitter!
Olha, gostei muito do tema que você abordou e concordo plenamente com sua filosofia de vida sobre os idosos!!
Quase nunca os valorizamos como deveríamos, como eles realmente merecem! São tão sábios, conhecem tanto da vida, que nosso dever mínimo seria ouví-los com atenção!
Amo Gabriel Garcia Marquez e os demais que você citou… belíssima escolha!
Um beijo, querida! Parabéns!
Jorge Farid
Só pra variar um pouco… Gabriel García Márquez! Muito bom, porém tenho que ser político agora! 🙂
paulo
A insensibilidade das pessoas aumenta na proporção da dinamicidade dos nossos tempos.
Ainda bem que tem muitos que pensam como tu. D
Bette
Parabéns a Luana pela abordagem tão descontraída e sentimental de um assunto tão bonito. Sou uma apaixonada pelas crianças da terceira idade. Pessoas que são capazes de nos apresentar o mundo como ele realmente é. Jovens senhoras e senhores que vivem, sabem e souberam viver. Infelizmente não tenho meus pais vivos, mas tenho muitos amigos que sabiamente vivem e me aconselham. Os olhos dessas pequenas e maravilhosas "crianças" são cheios de vida e de ensinamento.
Parabéns a Luana pelo lindo texto
e parabéns a você Su pela convidada singular!!
Beijos Suuu, saudades de ti
Maíra K.
Pois eu adoro ouvir todas as histórias que meus velhinhos me contam, rs. Mesmo que repetidas vezes! Nós, aqui, achando que sabemos de tudo e não sabemos é de nada, basta ouvi-los pra saber disso!
Boa semana!
Luana
Poxa, Suzinha! Gostei da receptividade dos teus leitores, gostei de ver que tem gente que também conclama a sabedoria dos velhos, e até mesmo de ter trazido um amigo meu a comentar aqui. Hehe.
Tatiana, tb a estou seguindo. 😉
Bjoos