Canto de areia

“Contam que toda tristeza
Que tem na Bahia
Nasceu de uns olhos morenos
Molhados de mar.

Não sei se é conto de areia
Ou se é fantasia
Que a luz da candeia alumia
Pra gente contar”.

[Clara Nunes]

 

Corumbau-Bahia / Suzana Martins

A minha segunda pele, esse mar baiano, reflete uma saudade encantada de outras marés. Há tantas histórias presas nas entrelinhas que só as ondas podem cantar; e com isso, guardo em mim outras nostalgias que seguem a beira mar… Minha morenice salgada é uma maré cheia que de tão sentimental escorre letras escritas na areia. E, esse tal sentimento, vai contando histórias que parecem poesias perfumadas.

Eu sou uma fantasia qualquer e empresto a minha voz para essas gotas que escorrem dos olhos quando vê a lua. Arrasto o veleiro e reinvento um mar que está longe de mim. Mas, como sou fantasia, eu escrevo gotas de papel numa areia de sonhos fazendo promessas para a lua que vive cheia de saudades.

Preciso apenas de uma canção e páginas em branco para cantarolar em mares poéticos, e assim, todos os meus versos são contos de areia que enfeitam o papel. Nada faz sentido dentro dos versos. As palavras são meras fantasias que encontradas no sal e, eu sou apenas uma gota de oceano reinventando marés bordadas de prata.

Sou filha do mar, sou maré mansa cheia de saudades da areia.

*Ouvindo Mariene de Castro em Tributo à Clara Nunes. A beleza da voz, das letras trouxeram lembranças além mar. E as suas lembranças de onde vem?