Translúcida

Choveu nas cinzas das horas.
O tempo, esse descontrolado ponteiro,
esquece o pragmático mundo e
rodopia metáforas sensoriais.

Há aromas conotativos no existir.

Chove. Pulsa. Goteja.
As árvores dançam.
Os pássaros cantam.
Tango. Samba. Fado.
Bossa. Nova.
Nossa.

Observa ritmos.
Escreve meio verso.
Apaga meia nota.
Canta. Dança. Chora.
Melancólica co-nota…
Lúdica. Lúcida. Translúcida.

E, no avesso dos ponteiros,
escreve saudades inteiras.
Ali, não existe meio verso,
meio termo. Meio sexo.
Meio ser. Meia-noite.

Silêncio é incondicional.

Enfim, a poesia é o poema intenso.
Vibrando. Trepidando.
Pulsando as artérias do existir.

imagem: weheartit

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Suzana Martins 11/2014