Sonhadora que sou, estou além, mas não vou à frente de todas as palavras que se modificam na ponta dos verbos. Cansada de tantas figuras repetidas, transfiguro a realidade em minha cabeça, crio minhas próprias ilusões, invento modelos e imagino a realidade do jeito que eu queria que ela fosse. Mas, nem por isso, deixa de existir em mim sonhos despedaçados e lembranças de momentos que não voltam ou que não seriam capazes de montar as pedras de um quebra-cabeça.

O que resta na alma são as cicatrizes dos momentos que não feriram, ao contrário, deixaram marcas de sorrisos que estão no porta-retrato da estante…

Hoje, a imagens estão quase apagadas e a sonhadora segue sem sonhos, sem forças para escrever outra história com personagens que imitam aqueles amigos felizes num bar da Vila. Não há hipótese que faça alterar essa realidade, pois o alimento foi derramado em lágrimas quando o sentir se confundiu com as letras de amor.

Sou uma sonhadora sem sonhos com uma realidade distorcida dentro de mim, com a sua ausência sem fim. Demorei, mas aos poucos, consegui me adaptar a indiferença, frieza e as pedras no meio do caminho. Tento vencer a tristeza dos dias que vão passando sem ao menos uma nota de rodapé, um toque no telefone, ou sem as ilusões de sentimentalidades eternas que se afogaram nos pensamentos sonhadores.

Estou acorrentada a uma realidade que enterrou as lembranças daquele inverno que passou em vários tons. Preciso dos sonhos, preciso (re)aprender a criar minhas próprias ilusões…