*Leia as outras cartas aqui!

Rompendo a saudade, pulsando palavras em um lugar qualquer…


Ignoro o tempo e todas as suas possibilidades apresentadas a mim. Perco-me na lembrança do sentir e em toda saudade acumulada entre nós, e por mais que tu digas que não sentes saudades, eu sei que há vazios de mim em ti. Não dá para apagar lembranças. Memórias não se dissolvem como os rabiscos de lápis num papel ao cair à chuva; o que vivemos foi muito forte para desmoronar feito um castelo de areia. Lembranças são eternas, a memória registrou todos os preciosos detalhes de uma vida inteira.

Foi nesse absurdo de contar o tempo em histórias, que me perdi nas vezes em que as palavras ficaram entaladas na ponta de uma bic vermelha, rasgando o papel e sangrando as lembranças de todo aquele tempo que ficou num pretérito perfeito de suas conjugações. Esse sentir ausente e sempre tão presente que reserva em mim o direito de compor saudades num barco a vela que transita entre o ser e o querer.

Nunca consegui descrever esses sentimentos que se multiplicam em saudades, por mais que eu tente, as minhas palavras são dissolvidas pelas lágrimas da sua ausência. Restam em mim apenas pequenos gestos ou simples movimentos que vão trazendo recordações silenciosas de ti. Uma música que toca no carro, o oceano que se desfaz em ondas, o entardecer nas montanhas e todo o existir disso ou daquilo traz, para perto de mim, as lembranças do nosso encontro, e assim, vou me repetindo em palavras ‘furadas’ com acúmulos de saudade.

Você não se incomodaria se todas as minhas palavras fossem escritas com uma bic vermelha, nem se as letras das minhas canções fossem escritas pela metade, não é? Sinto que não se entristece com a minha constante falta de jeito com os sentimentos, principalmente em escrever sobre eles. O sentir é estar além de tudo isso…

Já faz um tempo que venho sentindo saudades das suas palavras grifadas num guardanapo de papel, isso também é sentir. Isso é deixar pulsar as artérias dentro de envelopes que revelam muito mais de nós.

Acho que somos assim: um sentir sem jeito que se ajeita ao final do dia. Somos uma melodia composta em metáforas desajeitadas tocadas num LP antigo. Somos cartas endereçadas a sentimentos ausentes e presentes. Somos linhas tortas que se ajeitam no infinito…

Vou ali compor outras palavras para ti, porque essas ficaram presas nas reticências das linhas paralelas. Quem sabe nos encontraremos nelas ou em tantas outras linhas?!

Com amor,

Outro Alguém.