(in)versos – por Lunna Guedes

O que ando a ler | (in)versos

por Lunna Guedes

Eu não sei se nos conhecemos em junho… não me lembro. Nem tudo a memória guarda. Algumas coisas, mesmo que preciosas, perdem-se no vácuo de nossa existência. São os famosos espaços em branco que os poetas tanto gostam de preencher. E que sorte temos nós de haver poetas no mundo…

Quando conheci Suzana Martins, ela era a menina das marés, algo que não mudou… e considero que seria poético que o livro que eu produzi, viesse ao mundo dentro dos dias desse mês. Mas como o Universo segue suas próprias regras… o mês foi outro.

Eu deixei para ler (in)versos nessa plataforma chamada Junho e cá estou eu, à espera do trem. A estação é a da minha infância porque é para lá que os poemas me levam. Dão as mãos para a menina faminta que fui e que tinha verdadeira paixão pelo virar de páginas. Gostava do som do papel, do toque e do movimento. Me demorava em uma página mais que em outras. Tudo dependia do que era sentimento ali. Um ou outro verso me fazia respirar fundo em busca de uma porção mais generosa de ar.

Para conceber o projeto… eu li as poesias de maneira avulsa-soltas, depois fui “pregando-as” nas páginas, brincando com fontes e cores até alcançar o resultado esperado.

Mas veio o convite para escrever o prefácio e todas as coisas mudaram de lugar em minha cabeça. Precisei fazer nova leitura do calhamaço de folhas brancas-impressas para compreender o ritmo da autora — que era a mesma pessoa com quem eu havia trocado correspondência. E foi como ter em mãos, um envelope a mim destinado… As palavras-frases se encaixavam em nossos diálogos regidos por xícaras de chá e fins de tarde, folhas encontradas pelo chão e recolhidas em gestos tão nossos-iguais, qualquer coisa de outono, noite chegando mais cedo.

A poesia de Suzana Martins em (in)versos é fôlego curto… escrita silenciosa que vai ecoando pelos cantos do corpo e se espalhando pelo espaço, feito neblina a cobrir casas-prédios: “o que um dia eu fui ficou naquela paisagem árida do sertão de minha existência” e vai se precipitando por caminhos que se oferecem a nós, como um mapa onde se precisa marcar territórios conquistados “o  mundo lá fora explode no arrepio profundo do ser. A intuição intacta provoca as minhas ruínas, altera os meus sentidos, dilacera a minha visão turva, branca, aguçada e reflete no escudo dos meus ecos“…