confesso não percebi o momento de nossas mãos algemadas
Tocou a nossa música no rádio. Fazia tempo que não ouvia aqueles acordes tão nossos. Fechei os olhos. Desenhei um sorriso leve no rosto. E dancei pela casa a imaginar aqueles dias-horas-momentos… que hoje são apenas retratos vazios a decorar minhas lembranças.
Não percebi a tua chegada.
Estava mergulhada na essência das tuas falas ausentes a recitar versos indomáveis sobre nós. Lembro de cada vírgula tua. O teu verbo suave a enfeitar a tua fala. O toque das tuas mãos quentes. O abraço aconchegante…
O teu perfume ainda está nas páginas do meu diário. Há resquícios nossos em cada detalhe daquela canção aguda que tocou no rádio hoje pela manhã. Cada nota na pausa é uma memória entalada na garganta.
Não alcancei a tua partida.
Passei a colecionar páginas abertas dos teus livros preferidos. Visito os lugares e espaços que tu ocupavas antes de ser apenas memória. Vou me virando por aqui. Ensaiamos a nossa despedida. Eu não estava preparada para largar as tuas mãos.
Não percebi as nossas mãos algemadas quando te fiz partir…
Tocou a nossa canção no rádio, mas eu não alcancei a despedida.
Suzana Martins
Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Título do post: Adriana Aneli (o sol da tarde)
Participam juntos comigo: Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso e Mariana Gouveia
Roseli
Suzana, que beleza de texto! Emocionei aqui.
Suzana Martins
Ah Roseli, obrigada pelo teu sentir!! <3