A carta foi escrita com os espinhos que ninguém plantou
As palavras deixadas no jardim
foram adubadas
irrigadas
infiltradas
pela tua letra tardia
escrita num inverno
carregado de espinhos.
Aquele desenho esculpido
na folha em branco
é apenas
um vestígio sólido
daquela estação perdida
em que as rosas
espalharam pétalas
murchas de pólen.
Furei o dedo na ponta
da tua carta afiada
sórdida
carregada de espinhos
de perfumes vazios
de letras insólitas
de jardins mofados
e verbos rasgados.
Reguei a terra
o barro
a grama seca
com a lágrima insípida
que escorreu
da página esvaziada
prolongada
derramada
largada
esquecida
no meu jardim.
Suzana Martins
Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Título do post: Mariana Gouveia, As Estações
Participam juntos comigo: Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso e Mariana Gouveia
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