as memórias ficam suspensas dentro de mim

 Minha menina Mariana,

depois da tempestade do ontem, as nuvens arranharam o azul e trouxe o sol para enfeitar o vento. Ficou no ar amanhecido um aroma de orvalho que, em suas notas delicadas, lembra a fragrância das águas salgadas do meu litoral. Não sei te explicar se o perfume são as minhas memórias suspensas ou se o aroma do mar realmente povoou esta atmosfera serrana.

Coisas da saudade a rasgar a derme para fazer morada em mim…

Gosto do ar daqui do alto da serra, principalmente depois da chuva primaveril. Pólen a expandir no horizonte e a essência das águas perfumadas a difundir no ar. As nuvens cinzas a preencher o azul, raios que rasgam o céu e as trovoadas a inteirar as canções da natureza. Essa fotografia tempestiva é tão bela e aromática quanto as tuas palavras que carregam o meu suspiro.

Minha doce Mariana, saiba que a tua escrita revela o meu pulsar carregado de lembranças coloridas e perfumadas. Gosto de apreciar as tuas letras, sempre tão bem desenhadas, a arrancar os meus melhores arrepios. Fico encantada com a tua fotografia que registra o teu olhar envolvente e intimista. Aprecio os teus detalhes e viajo com as memórias suspensas carregadas de estações. Contemplo a tua melodia que é composição perfeita a enfeitar o universo.

Escrevo-te no auge da ventania… Um trovão distante anunciou que a chuva chegará mais cedo. Os caqueiros suspensos no quintal bailam sem se preocupar com a queda. Aquele perfume litorâneo que comentei contigo, povoou novamente a minha derme e tem provocado as memórias registradas no pretérito de minhas emoções.

O sal, a areia e a água são memórias suspensas dentro de mim…

Deixo-te com o aroma do mar e com o perfume da chuva a invadir a terra.

Um beijo minha amada menina Mariana,

Su

Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Título do post: Mariana Gouveia, As Estações 
Participam juntos comigo: Lunna GuedesObdúlio Nunes OrtegaRoseli Pedroso e Mariana Gouveia