“Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.”

(Cecília Meireles)


Arrumei as flores da janela, enfeitei o jardim e fiquei a observar a chuva que caia levemente imitando formas que esvaziavam as dores que não cabiam em mim; e o vento, ia levando para bem longe dos meus ombros o peso do mundo. Era a leveza da tempestade imitando gotas de final de inverno e de um quase primavera.

É impressionante como as minhas lágrimas sempre vão embora quando a chuva começa a cair. Porém, eu nunca saberei explicar, se elas vão embora porque a chuva cai, ou a chuva cai porque elas vão embora. É meio biscoito tostines, lembra? “rende mais por que é fresquinho, ou é fresquinho por que rende mais?” – era isso que dizia aquela propaganda antiga da televisão. Mas isso não está no poema, o que escrevi no outro dia falava apenas nas sensações e nas trocas naturais entre mares e corpo.

A chuva e a tempestade são metades completas de mim…

A bem da verdade é que, independente de qualquer estação, a natureza sempre conspirou ao meu favor; seja em dias quentes ou frios, alegres ou tristes, ela sempre se fez presente amenizando dores e espalhando sorrisos. É como se a minha derme fosse a segunda pele de tantos versos que escorrem em nuvens blindadas de um sentir arrepiando até a alma. É a tempestade levando para longe a negritude do sentir… Coisas de uma natureza que é bem mais sentimental que eu e chora em gotas sem medo de ser feliz.

Não canso de arrumar as flores que enfeitam a minha janela a espera da primavera, e não me esqueço de molhar os pés nas ondas do mar que salga as minhas entranhas despedindo do inverno. Sempre houve um misto sentimentaloide envolvendo o meu eu com o mar e suas tempestades. Não há explicações para o que é sensível e perceptível.

As ondas até parecem janelas abrindo para os jardins recheado de flores imitando sorrisos leves e sorrisos em faces de saudade. Mar de Rosas! Gotas de sorrisos!

Ah, como eu gosto da chuva escorrendo no céu e formando desenhos em minha janela, entre as minhas flores! Como admiro as tempestades que se formam lá longe. Gosto de apreciá-la, sem medos. Gosto de sentir suas gotas em minha derme, gosto das sensações que seus pingos provocam.

A beleza da tempestade está nas gotas desenhadas no ar, na atmosfera cinza que reinventa cores num jardim de papel. Ah a chuva… esta que sempre colore as minhas flores, o meu mar num arco-íris de desejos íntimos arrastando as minhas dores para longe da estratosfera…

Enfim, entre chuvas e tempestades, lágrimas e sorrisos, mares e flores, sigo imitando a leveza da chuva e continuarei enfeitando a minha janela só para desenhar a beleza do cinza colorindo outras estações…

Deixa o vento levar as pétalas para perto das flores que choram em gotas de tempestade…

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É o leve voltando a sorrir, voltando a ser primavera!!!