Cheguei agora! É isso mesmo, às 07:03, eu sei que fiquei muito tempo na rua, mas foi preciso. Não gosto de ir pra ‘balada’ tentando resolver umas coisas pendentes que podiam ser resolvidas de outra maneira, mas… já que esse foi o jeito escolhido, então eu fui. Eu tenho certeza que você já ouviu dizer mais ou menos assim: “… leva-se muito tempo para gostar de alguém, mas pouquíssimo para decepcionar.” E foi isso que aconteceu, esse sentimento mais dolorido que o amor rasgado no peito, tomou conta de mim e me entristeceu profundamente. Só tenho medo que todo sentimento vire ódio, estou rezando e cantando para que isso não aconteça. Acho que até agora você não está entendo nada, as palavras ainda estão soltas para ti, mas aos poucos irei descrevendo essa trajetória noturna que tem um fundo musical não muito agradável de se ouvir… consigo escutar apenas as cordas de um violão abafado. A música tem uma maneira mágica de embalar todos os momentos que vivemos, seja tocando uma trilha sonora triste ou uma dançante… A que eu ouvir essa noite, nós vamos descobrir agora, porque ainda não consegui defini-la.


Viver da música é um sonho para muita gente, não meu, eu gosto de cantar, tocar, mas só para sentir a harmonia da vida. Mas a maioria das pessoas querem isso para viver e acabam passando por cima de tudo e de todos, até mesmo dos próprios amigos e colegas de profissão. As pessoas que tocam em bares, à noite, tem o seu cantinho certo, ou seja, em qualquer barzinho que tem música ao vivo a pessoa que você vai está no palco, na maioria das vezes, é sempre a mesma. Isso porque é uma espécie de âncora, um porto seguro, um lugar certo para todas as noites e tem o reconhecimento de público, é claro!! E dependendo do carisma do cantor, ele sempre convida algum amigo para uma participação especial, essas coisas de ajudar alguém que quer ir para noite, e desses convites começam a surgir as parcerias. Mas o problema todo é quando o tal sucesso começa tomar conta de você… essa é a parte triste de tudo… Infelizmente aconteceu isso com o meu parceiro, um cara que eu ajudei bastante. Nós aprendemos muita coisa juntos, mas a possibilidade da fama, do sucesso, do reconhecimento foi mais forte que qualquer amizade ou parceria… tudo isso foi além das rodinhas de violão!


Ele conseguiu abafar o meu violão, e olha que ele é muito bom (falo isso sem ser pretensiosa), conseguiu me tirar do único lugar que eu tocava com emoção, porque foi ali que tudo começou. Em um dia chuvoso, entrei no OPEN BAR, peguei um violão que estava ali encostado e comecei a fazer música com ele. E depois daquele dia marcávamos para ir todas às noites ali, só para tirar dos ombros o peso do dia corrido, deixar a solidão, rir, fazer amigos, namorar e chorar, (bons momentos). E de uma brincadeira comecei a tocar nas noites, me fazia bem mas eu não queria me profissionalizar, então chamei um amigo e formamos uma parceria… mas acho que ele queria mais que isso. Ele queria o sucesso total, e simplesmente não exitou em empurrar-me para fora do palco. Um ano e meio de parceria, músicas e violões, composições inacabadas… é… muito tempo em tão pouco tempo!!!


Talvez fez tudo isso porque se encantou com a vibração do público, com a facilidade de chegar aos lugares ou simplesmente porque o tal sucesso soou mais alto! A única coisa que me deixa triste é que ele vai sofrer se continuar com essa atitude, porque um dia o som vai desligar, o violão pode ficar abafado e as pessoas nem vão querer ouví-lo… A estrada é longa, as cordas quebram, a voz embaça, o público não vem e você fica ali sozinho tocando apenas para você. É triste, mas é real! Se começamos bem, vamos subir ao palco e encontrar todos gritando o seu nome… mas se começamos passando por cima de tudo e de todos, o único público que você vai ter é a sua voz! (…)


Foi isso por isso que sair correndo, fui ver o meu ex-parceiro me tirar do palco… Fui ouvir a canção mais triste das minhas noites, fui ver o meu lugar ocupado por alguém que eu apenas ajudei… Não estou triste por está fora de cena, e sim porque me tiraram de uma maneira tão baixa, tão desafinada, sem acordes, entende?! A única coisa que consegui ouvir naquela noite foram notas de decepção, acordes mal feitos, violões abafados… sons ensurdecedores!! Não me contive. Chorei…


Sai dali correndo e fui ao encontro de outras notas, de outras músicas, de outros sons, fui procurar em meus antigos cadernos de música o dia em que tudo começou… Só achei aquele velho violão, o meu companheiro de todas as horas, àquele com quem eu divido tudo em todos os momentos. E ali, sentada no cais, ouvindo o canto do mar comecei a tocar aquela música antiga relembrando o começo de tudo, mas não estava me fazendo bem. Então comecei a compor outra história, outras canções… toquei com o mar, cantei com a chuva e ouvir a bateria dos trovões me acompanhar… uma noite perfeita!! No cais, vi o dia acordar ouvindo as minhas canções e depois de sentir o beijo suave da chuva a noite toda, o sol acordou, me abraçou e disse:



“Obrigada por ter feito companhia para a noite, ela estava solitária e precisando de ti!” – disse isso sem saber que eu também precisava da noite! (…)

E naquele instante ouvir a melhor canção do mundo: “a natureza não tinha pressa, apenas seguia os meus compassos…” E fui para casa abraçada com o sol e sentindo seu calor. Quando cheguei ele me deixou no portão e sumiu, acho que foi dormi também!! E naquele instante eu descobrir que quem faz a melhor canção do mundo é a natureza!!!

(Texto escrito na manhã de 11/07, assim que cheguei em casa depois de ter vivido toda essa situação. )