BEDA – Angústias Interrogáveis

A primeira vez que li-ouvi o nome Mário de Andrade foi por meio de Cecília e a poesia Segundo Motivo da Rosa. Curiosa que sou, comecei a pesquisar quem era aquele que merecia ser dono de um dos motivos da rosa de Cecília. Foi assim que o conheci. A poesia dele chegou para desafiar o meu olhar com palavras tão modernas, concretas e folclóricas carregando o mais puro dos sentimentos. A escrita de Mário despertou em mim uma paixão avassaladora, principalmente pelo seu doce olhar para Paulicéia desvairada. Mário enxergava São Paulo com o coração.

Ele, tão cinza e urbano. Eu, tão salgada e marítima. Fui atraída pelo oposto de mim.

Em algum lugar do universo os deuses da poesia olham por mim. Eles sempre colocam no meu caminho pessoas que são um poema inteiro nessas páginas infinitas. E, foi nesses acasos da vida, que conheci a Lunna. O nosso primeiro assunto foi Cecília Meireles e, consequentemente, Mário Andrade. Eu via Mário em Lunna. Nas suas andanças por São Paulo, nos seus detalhes urbanos e nas letras tempestivas.

Lunna e Mário, os meus motivos da rosa!

“Chove?
Sorri uma garoa de cinza,
Muito triste, como um tristemente longo…
A Casa Kosmos não tem impermeáveis em liquidação…
Mas neste Largo do Arouche
Posso abrir o meu guarda-chuva paradoxal,
Este lírico plátano de rendas mar…”

Mário de Andrade – Paisagem nº 3

Quando aceitei o convite para trocar missivas e falar sobre Mário, foi o pretexto perfeito para mergulhar, sem limites, nessa escrita urbana, paulistana, cinza e concreta. Reli algumas poesias dele, conheci algumas cartas e fiquei imersa na emoção das palavras que chegavam até mim. Trocar correspondências com a Lunna é um deleite outonal. É como despertar todas as palavras adormecidas. É atravessar a cidade com o sorriso no rosto sem mover um passo.

Da capital para a região metropolitana, as nossas letras – banhadas a café e chá – as nossas angústias interrogáveis foram registradas no pulsar mais sincero de todas as emoções. Os envelopes percorrem o tempo e as páginas e sinto-me absolutamente feliz ao ler cada missiva da Lu endereçada a mim.

Angústias interrogáveis
Correspondência entre
Lunna Guedes & Suzana Martins
duas leitoras de Mário de Andrade


Agosto é o mês do B.e.d.a e, desafiando a lógica do mês, eu embarquei nesta aventura.
Estão comigo Lunna Guedes Mariana Gouveia – Roseli Pedroso – Obdúlio Nuñes Ortega