blogvember | 6 on 6: anatomia dos passos

Gosto de esquecer-me no silêncio do meu mundo. Escolher um livro, apreciar os aromas e sabores do chá. E deixar os pés largados como letras soltas de um alfabeto antigo, enquanto descanso dos ponteiros apressados da rotina. As leituras, repletas de notas de rodapé, detalham os altos e baixos de alguma trama, ou alguma poesia que surge no pulsar página avulsa. Enquanto escalo os paralelos de mim, permito-me habitar nesse universo infinito e particular. É aqui que ouço canções, leio histórias e rabisco algumas letras silenciosas e profundas.

Gosto de atravessar a cidade e observar a solidão que perdura em meio ao caos urbano. A paisagem pós vendaval sempre desperta o melhor de mim. A cidade se enfeita. O chão parece um céu estrelado com folhas e flores a enfeitar os espaços. Há quem reclame do que fica depois de um vendaval. Eu apenas contemplo a beleza que aparecem “entre os sucessivos solavancos que projetam veias de anil”,(*)

Os meus pés sempre encontram o mar. Mas não aparendi a pisar na areia sem calçados. Aqui, deste lugar, contemplo a beleza das águas salgadas… o tempo atravessa os meus ponteiros e não posso ficar mais. Não posso sentir, sob os meus pés, a textura da areia, o toque do sal… mas contemplo o que me move… o mar!

Em desalinho com o mundo, gosto de deixar molhar o corpo com a chuva. Não corro. Até desacelero os passos. E deixo molhar a matéria e a alma.

A dimensão das folhas a ultrapassar a anatomia dos passos.

Os ladrilhos hidráulicos a reinventar os passos urbanos.

Este conteúdo faz parte do Projeto Fotográfico 6 on 6 e do blogvember
(*) Frase de Rozana
Participam comigo: Lunna GuedesMariana Gouveia Obdúlio Nuñes Ortega