“Uma palavra caiu de dentro dela.Caiu e espatifou-se no chão, aos pés dele. “Fica”, ela disse. Ele olhava o mar.”Fica”, ela repetiu. Ele, pescador de ilusões, pensava apenas em jogar a sua rede em tantos outros mares, em mares que ansiava por domesticar. Queria tanto encontrar outra pérola. Era um conquistador, tinha sangue de conquistador e um coração de eterno marinheiro.
Precisava tanto daquela sensação louca e indescritível de descoberta, de peixes multicoloridos em sua rede… Precisava… Quem sabe poderia até achar uma sereia… Quem sabe… Uma sereia de belos cabelos e voz, inteira, maravilhosa… Sonhava ele… A palavra havia quebrado em mil cristais, não havia como colá-la… Nunca mais… Nunca mais…
Viu ele sair mar adentro, cheio de expectativa e desejos… Viu ele encontrar falsas pérolas.Acompanhou distante toda a odisséia daquele Ulisses às avessas… Não se sentiu Penélope. Isso nunca! Não esperou, não dispensou pretendentes, não desfez o fio da trama. Dormiu em paz todas as noites desde que ele partiu. Não sofreu porque havia cansado de ser seu porto seguro, havia cansado…
Deixou apenas que ele se enroscasse em sua própria rede de sonhos, que pescasse outra e outra e outra ilusão…”
(Karla Bardanza)