Acúmulos

Habita em mim várias saudades. Nostalgias de todos os tipos. Diversas faltas e outras lembranças que, outrora vazias, são segredos do meu coração. Ao longo do tempo fui acumulando algumas tristezas e liberando tantas alegrias, que essas minhas saudades são apenas misturadas emoções. As canções que ecoam no rádio, falam diretamente para mim. Decifram minhas vontades, revelam meus atos, medos… doces lembranças egoístas misturadas a fumaça que exala da xícara de chá.

Divagações, letras, verbos, versos, palavras que não escrevo mais… Tantas recordações, que, eu poderia dizer que sou um poema inacabado, cheio de reticências. Há, até, algumas metáforas que amontoam no ponto de final de minhas conotações.

Já falei tanto em saudades, ausências, nostalgias e, principalmente, das letras que nunca terminei, que até o meu rascunho cansou dos meus sussurros. Acho que foi aquele poema que deixei em outras águas, em outros mundos; e, ao longo dos anos acumulou essas distâncias em mim. O tempo, esse relógio em conta gotas, brinca de vida, ultrapassando os meus limites e vai conduzindo as minhas letras ingênuas pelas heranças do meu ser.

Devaneio tanto e não escrevo nada. Toco e o som fica em silêncio. Falo e não escuto. Rabisco, mas tudo não passa de histórias de uma revista de papel. Um conto melancólico de lágrimas exatas e contadas no fim. Miragens de uma sobra do passado. Tudo isso vai assombrando a paisagem e respingando lágrimas de uma lembrança doída que toca agora no rádio.

Imagino tanta coisa, tantos sorrisos cada um do seu jeito, e assim, as letras se arrastam repetindo aqueles versos da minha infância. Tudo é tão íngreme que o cansaço fica visível nessa tela que ganha formas. Não aventuro mais em versos, apenas deixo escorrer melodias numa pausa que não interfere nessas minhas sentimentalidades a flor da pele. Palavras agridoces imitando saudades que eu mesma desconhecia. Coisas dos versos que deixei jogados no mar num outono de chuvas melancólicas.

Imagem: weheartit

Saudade, essa nostalgia que pulsa em mim…

Suzana Martins – março/2014