Os seus olhos se dividiam entre uma pilha de livros e algumas pesquisas no computador. A sua vida esses últimos dias resumia-se: entre as horas que passava na faculdade e os minutos que conseguia pararem casa. Victóriasentia-se prisioneira em seu próprio tempo, presa em regras que a ela fora imposta, regras que eram passadas na época de sua adolescência no tempo do colegial. E era isso que a deixava incomodada: aquele tratamento infantil ao qual fora submetida.
Ela não era mais uma criança (adolescente), era apenas uma garota que tinha obrigações escolares e extracurriculares, e queria apenas ter tempo suficiente para poder cumprir tudo que lhe fora apresentado. E foi em meio aos seus estudos e pesquisas, na sua vontade de aprender que encontrou uma carta, cuja letra era estritamente conhecida, esqueceu tudo o que estava fazendo e começou a ler.
Filha,
Eu não sou chato, nem inconveniente. Sou apenas um pai que preocupa com você e quer te ver feliz. Não estou cortando os seus hábitos rotineiros, nem a sua vontade de se divertir a qualquer momento se preocupando apenas com o agora. É justamente ao contrário. Eu amo você e quero vê-la feliz em todos os momentos de sua vida, agora e no futuro, por isso que faço esse papel de pai chato e preocupado. Foi por isso que eu vesti esse personagem que ninguém gosta de fazer. Eu vejo em seus olhos a vontade de deixar as obrigações de lado e apenas viver o momento, e eu não quero cortar isso de você. Juro que não! Quero que vivas todos os instantes de sua vida, quero que vivas intensamente e feliz!
Mas, querida, tudo tem limite. Agora é a hora de você estudar, descansar, dormi bem e levantar para o dia cheio que está por vir. Procure fazer da mesma maneira quando era simplesmente uma criança, ou aquela adolescente que “enfiava a cara nos livros” e só ia brincar/sair quando havia terminado tudo. Tu sabes que não adianta passar horas e horas na frente de um computador ou com vários livros para estudar se a sua concentração não foi ativada. Uma boa noite de sono é um ótimo remédio para tudo…
Então, meu anjo, dessa vez eu aceito ser o pai chato, o pai que cobra, porque quando tudo isso passar você vai olhar para mim com o sorriso lindo que tu tens e irá dizer: ‘Obrigada papai!’ E é por isso que eu faço esse personagem de ‘marrento’ e protetor, mas no fundo tu sabes que eu tenho um coração mole e não resisto ao seu pedido dengoso. Eu te amo demais e quero apenas que você seja muito feliz!
O sorriso de Victória naquele momento misturou-se com uma lágrima que rolou dos seus olhos. Sentiu-se triste e ao mesmo tempo feliz, os sentimentos se uniram com uma vontade infinita de ter que admitir que o seu pai estivera certo o tempo todo… Mesmo tendo certeza de que todas aquelas palavras eram verdadeiras, o seu pensamento orgulhoso (rebelde) não se conteve:
– Tudo bem, o senhor está certo! Mas papai, não é o senhor que tem que escrever em um “diário” todos os dias, e nem centenas de amigos para sentir saudades, visitar e agradecer tanto carinho que eles transmitem mesmo na minha ausência. Tente pelo menos por um dia ser Victória.