BEDA – desafio de escrita

Quando escrever era apenas uma maneira de dialogar comigo mesma

Esperei o dia terminar
dentro do poema
que carregava detalhes meus
em cada vírgula daquelas entrelinhas.
Fiquei à espera
dos pronomes exilados
dos adjetivos censurados
que dialogavam comigo
desde poesias absurdas
até as realidades alinhadas
aos pensamentos abstratos.

Deixei a minha voz ecoar
nas extremidades da página vazia
na memória do verso proibido
no elo, na ação
no verbo calado
e na fala pálida do sentir absurdo.
Clamei.
Desaguei no meio do poema
que dilacera o meu eu
sangra a alma
e pulsa secretamente
em todas as letras.  

Rasguei as minhas vísceras
joguei fora falas acumuladas em meu ser
mergulhei na solidão dos versos
e deixei-me largada
no porão de cada palavra sentida.
Gritei.
Chorei na borda do poema anônimo
ao abandonar metades inteiras
que abrigam em mim.

Esperei o findar do dia
aliviar a página cansada
para gravar na derme
versos de uma ode infame
que sangra a alma.
Fiquei à espera do verbo
que atravessa o meu ser
encaixar-se na fenda solitária da letra.

Suzana Martins


Abril é o mês do BEDA, e eu terei a companhia nessa aventura diária:
Lunna GuedesMariana GouveiaRoseli Pedroso Obdúlio Nuñes Ortega