Beda – missiva a suspirar inverno
São Bernardo do Campo, noite estrelada de inverno
Caríssima,
A noite enfeitou-se de nuvens, neblina, alguns vestígios de vento e outras estrelas que chegaram a pouco para me fazer companhia. Fiz chá e vim apreciar movimentos a calcular ponteiros. Deixei a fumaça mergulhar na perspectiva das solombras que enfeitam a noite e pensei na tua missiva do outro dia. Agora, cá estou a trocar letras e cenários contigo…
Gosto de sentar na varanda e contemplar as cores do crepúsculo a receber a noite. Sempre tenho a companhia das minhas dogs e dos pássaros que riscam a cena e cantarolam os seus melhores acordes. Desde que deixei o litoral, há alguns anos, aprendi a apreciar as nuances da paisagem que amanhece ou anoitece pela urbanicidade.
Antes do negro abraçar o céu por completo ele reinventa-se em vários tons de azul e cinza. Às vezes, dependendo da época do ano, é possível avistar amarelo, laranja, violeta e outras cores a deslumbra-se no infinito. Aprendi a amar o céu quando reverenciei o mar.
Você já reparou as cores das árvores quando o dia apaga as luzes? Elas mergulham nas sombras de um verde escuro, quase negro, e tudo ao redor parece ganhar pequenas iluminâncias… As casas iluminam as janelas e a rua acende todas as luzes em um espetáculo artificial a provocar paisagens nostálgicas e tantas outras histórias a conduzir futuros incertos.
A noite aqui fora não está tão gelada quanto a dos últimos dias. O ar anuncia a primavera. Não sei se é culpa do perfume das flores de lavanda que estão a exalar pelo quintal ou da folha amarela que caiu por aqui quando o vento passou.
O equinócio se aproxima em matizes cintilantes.
Lembrei-me do verso de Cecília que deixo para ti.
“A primavera chegará,
Cecília Meireles
Mesmo que ninguém
mais saiba seu nome,
nem acredite no
calendário, nem
possua jardim para
recebe-la.”
Ah Lu, esta é apenas uma missiva que recita paisagens da noite que o inverno desenhou por aqui. Simples, mas cheia de sentimentos a pulsar pelos meus beirais. Daqui a pouco é primavera na cidade e o crepúsculo reinventará outros horários e cores perfumadas. Até lá outras cartas serão escritas…
Sabe aquela folha que o vento deixou por aqui? Fotografei pra ti!
Tenha uma noite estrelada por ai!
Bacio.
Agosto é um devaneio sem fim e no mês do Beda.
Estão comigo: Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Roseli Pedroso
Obdulio Nunes Ortega – Darlene Regina
Lunna Guedes
Boa noite cara mia, como eu gosto das noites nas cidades. Gosto dos tons das luzes nas coisas, principalmente nas folhas das árvores e no cinza da rua.
Penso em Cecília, nos aromas e no som das páginas. Nas conversas enquanto o breu cresce e se espalha. Quero ler-te amanhã na hora última, quando a realidade faz uma pausa e tudo e nada são uma mesma coisa. Basta um segundo e pronto. Ah, sou uma figura noturna
OBDULIO NUNES ORTEGA
Parece que a minha cidade ganhou nova perspectiva com o seu olhar, Suzana! Obrigado!
Mariana Gouveia
Uau! Que linda!