Beda – missiva além das nuvens

São Bernardo do Campo, tarde a desenhar nuvens e abraços

Minha Menina Mariana,

Antes de qualquer palavra ou desenho em versos, quero dizer que receber a tua missiva foi um sonho realizado. As tuas linhas exalavam o perfume da chuva de verão depois de um dia infinitamente calorento. Tua carta chegou tal qual brisa suave a beijar os campos floridos. Ler as tuas palavras, olhar o teu céu e descobrir desenhos em nuvens foi uma das paisagens mais lindas que recebi nos últimos dias.

Agradeço-te imensamente por isso!

Ainda estou presa nos cenários que trouxe até mim. O céu do teu cerrado é sempre encantador; as nuvens rabiscam desenhos que parecem linhas inteiras de um poema teu. O sol, sempre tão amarelo, aparenta cobrir a cidade com o perfume e calor incansável do verão. As tuas fotografias-paisagens-palavras reverenciam a natureza que pousa por aí.

Ah Mari, que vontade de sentar ao teu lado, no teu quintal, para contemplar a beleza e o encanto que o cerrado te presenteia! Contar nuvens, desvendar o canto dos pássaros que passeiam pelas tuas árvores e observar o sol a colorir a cidade na despedida dia. Creio que, no ponteiro desta bagunçada estação, a tua rua-casa-abrigo esteja completamente florida. É a época dos ipês, certo?

Eu sempre lembro de ti quando vejo um ipê florido, principalmente os amarelos. Você é sempre tão solar. Pelo meu caminho sempre encontro alguma pétala a trazer nuances tuas para perto de mim.

Sabe, Menina Mariana, eu também sempre fui-sou apaixonada pelas nuvens que reinventam desenhos e rabiscos no céu. Aprendi a contemplar estes detalhes na minha infância. Lembro da minha mãe sentar comigo no quintal de casa, na praça ou no parque e perguntar que desenho eu via naquelas nuvens fofas de algodão. Aprendi com ela a apreciar a natureza e suas estações. O dia e seus perfumes. Os pássaros e seus cantos. O mar e a sua maresia.

E neste contemplar incansável trouxe para ti detalhes do meu horizonte.

O céu de ontem parecia um dálmata. Ouso dizer que parecia o mar quando toca a areia. O azul era apenas um detalhe no meio das nuvens que salpicam aquele céu imenso. Tinha cheiro de saudade. Não sei de onde vinha o aroma, mas exalava o perfume de uma lembrança da infância.

Olha esse céu, não parece um dálmata? (risos)

Hoje, antes da frente fria chegar, o céu estava pintado de anil. Algumas nuvens anunciavam as nuances de quase inverno. Nuvens a observar o seu reflexo nas águas e a reinventar cores no infinito. Não tenho o mar por aqui, mas vejo nuances marítimas em tudo que é possível.

Minha Menina Mariana, ficaria horas aqui a dialogar contigo sobre céu, nuvens, versos e tantas letras. A tua fala, a tua voz e as tuas imagens são sempre tão lindas e acolhedoras. Aprendo muito com o teu universo.

Agradeço por ter você e todas as tuas delicadezas pelo meu caminho.

Um abraço bem apertado da tua Menina Nuvem.


Agosto é o mês das missivas perfumadas e do Beda.
Estão comigo: Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Roseli Pedroso
Obdulio Nunes Ortega – Darlene Regina