Logo de início foram olhares discretos. Ela não conseguia sustentar um olhar diante daquele que parecia querer despi-la apenas com a força do pensamento, entretanto sentia-se impelida a estar cada vez mais próxima dele. E por isso, esforçava-se para também demonstrar interesse, a espera de um ímpeto do moço que certamente a desejava mais que tudo.

E assim seguiu-se a noite, entre olhares flamejantes e faíscas cintilantes ante o instante em que os lábios selariam aquele encontro de almas e os corpos poderiam, enfim, sentir-se acalorados pelos fluídos que emanavam desde aquele primeiro olhar.

Lá pelos idos da madrugada, após intensa troca de olhares, quando ele não mais resistiu ao desejo tórrido que lhe invadia, de possuir em seus braços as curvas bem desenhadas de um corpo que parecia esculpido à mão, eis que o moço avança salão adentro na direção do seu alvo lançando-lhe ainda, olhares penetrantes e cheios de significado.

Trocaram meias palavras, mas cada letra não lhes dizia nada, tal a ânsia dos mais loucos momentos. Ela dançava como se fosse sua última noite, e ele a acompanhava embora não lhe fizesse muito o tipo valsar ritmos calientes. Mas as batidas frenéticas criavam uma áurea de magia em torno do casal, causando a impressão de que nada mais existia em sua volta além do desejo desmedido que sentiam um pelo outro.

Por instantes o som da música envolvente que os embalava fez-se tão alto que já não podiam ouvir a própria voz, entretanto a sintonia entre eles era tão intensa que as batidas de seus corações podiam ser nitidamente ouvidas e sentidas de forma ardente, declarando todo o desejo que cabia dentro daquele abraço.

Entre beijos e carinhos acompanhados atentamente pela multidão os dois permaneceram. Eram mãos e braços, beijos e abraços. Uma fúria louca em meio ao um cenário paradisíaco. Um lindo bosque se apresentava inteiro, somente para ambos e os dois não pretendiam perder tão única oportunidade, tão grande era a certeza de predestinação daquele encontro.

Após tudo o mais que se seguiu, o sol já se preparava para acordar, trazendo consigo todo um clima de romantismo e um sonho utópico de união eterna. Trocaram juras e muitos mais beijos e toques ardentes, até que diante de um sol já alto a despedida fez-se inevitável e ele então, na expectativa de novamente tê-la em seus braços, questiona-se sobre o próximo amanhecer que contemplaria em tão doce companhia.Mas ela apenas pede que se permita ao acaso uni-los novamente, na certeza de que em um futuro próximo sentiria o mesmo toque macio que a fez vibrar naquela noite.

Por fim o acaso cruel, contrariando tanta certeza, encarregou-se de dar por findo um enredo que certamente daria uma bela história.

(Texto originalmente escrito em 03.07.06. Ele costumava ter outro título, mas hoje deu vontade de mudar)