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Capítulo IV – A inevitabilidade dos fatos…

Após uma segunda-feira de certas decepções e mágoas, o dia seguinte amanheceu escuro e sombrio ao redor de Copacabana. Não existiam mais motivos para alegria, encantamento ou aventuras… Tudo se esvaiu em uma sucessão de gestos aparentemente inofensivos, mas devastadores.
Haviam adormecido em locais separados – quarto e sala – assim como distintas também estavam suas vontades e intenções…
Todo aquele romance idealizado durante a estada em Paris, ou até mesmo na chegada ao Rio de Janeiro, já não existia mais… Era como se, em questão de segundos, um sonho pudesse se apagar, simplesmente sumindo do mapa, como se nunca tivesse existido.
Triste realidade dos fatos!
Acordaram no susto do despertador da alma.

Havia tarefas a serem realizadas que independiam do estado emocional vigente, envolvendo compromissos, responsabilidades, prazos… Coisas com as quais pareciam saber lidar muito bem, ao contrário da maneira como tratavam seus sentimentos e relações…

– Precisamos conversar…
– Eu sei, mas este não é o momento… Tenho que sair em busca da papelada para iniciar em meu novo emprego – aliás, novidade essa que não tive a oportunidade de te contar direito. E tu tens um trabalho à tua espera. À noite, com mais calma, tiramos tudo a limpo.
– Ok. Que tenhas um bom dia, na medida do possível… Eu também vou tentar!
– Não tens que tentar nada, afinal, já conseguiste o que querias… Mas não discutirei isso agora. Não mesmo.
Passados alguns estranhamentos comuns ao momento, saíram em busca da labuta, de modo bastante individual e solitário. Não poderia ser diferente, mesmo. O dia passou corridamente diante de seus olhos e, ao entardecer, já estavam em casa para a temida e inevitável conversa.
– Não aceito explicações tuas. Havias me prometido o céu e me levaste de supetão ao inferno. De coração, não consigo entender-te!
– Peço perdão. Sei que isso não resolve muito, mas esqueci de te contar algumas coisas a respeito do meu perfil, da minha personalidade… Escuta… Amo-te, e isso é verdade! É contigo que quero passar o resto dos meus dias… Nossos destinos foram traçados há tempos, em outras vidas – já não tenho dúvidas disso!
– Como assim? O que te esqueceste de me contar e que ficou tão obscuro assim durante nosso relacionamento em Paris?
– Acalma teu coração, por favor… Não conseguirei explicar nada assim! Por favor, te acalma!
– Minha alma está tranqüila, apenas não consegue compreender-te.
– Há traços de mim que se mantêm ocultos em meio a sentimentalidades, meu bem… Sou fiel a ti por amor, pelo sagrado vínculo que criamos. Mas sou uma pessoa de vontades e desejos mil. Não sei guardá-los dentro de mim! Sou carnal… visceral… pura intensidade! Vejo em ti uma calmaria maior e sei lidar com isso… Mas acredito que precisas respeitar meu modo de ser, meio bicho, meio humano… Com demandas que precisam ser supridas com rapidez!

– Queres dizer que não “supro tuas demandas” como se deve? Que calúnia dizeres isso… Sinto-me infinitamente mal com essa vã afirmação…

– Pedi calma a ti… Aos poucos, vou te explicar a situação. Por favor, perdoa-me! Além do mais… não te prometi nada! Apenas dissemos que iríamos tentar uma vida nova, com desprendimentos… Livre de amarras e retaliações!
– Quem és tu para me falar sobre retaliações? Estás sendo de uma tolice absurda… Não conseguirei viver assim! De fato, será impossível para mim!
– Por favor, não te vás… Tentemos mais uma vez, imploro!
O diálogo suplicou silêncio. As palavras haviam se tornado vazias e, talvez, apenas o tempo conseguiria fazer a mente assimilar certas incontestáveis verdades, que nem um intenso amor seria capaz de superar…
Não perca o último capítulo no dia 22/08!
De mãos dadas sob o horizonte parte I, leia aqui.