Numa dessas madrugadas em que trocávamos sorrisos, palavras e confissões, escrito num Diário das Estações, a Lu me presenteou com as seguintes palavras:

Coisas para Su da Lu

Bobagem querer entender tudo, aceitar tudo. Deixa acontecer. Eu preciso ouvir meu coração pulsando forte por causa da chuva num fim de tarde, eu preciso sentir dor quando a manhã desperta na aurora e não me diz absolutamente nada. Eu preciso amar as flores e seus perfumes que vão me causar espirros agoniantes. Dane-se, eu preciso sim encontrar a palavra perfeita. Preciso te descrever dos pés a cabeça. Preciso sim, espiar o teu sono, saber que olhas pra mim e me quer, faça chuva ou faça sol.
Eu sou maluca e isso não vai mudar. Besteira pensar que vai ser diferente amanhã porque amanhã nunca chega, nunca é hoje, nunca é agora…
E agora eu sei o que sinto, eu sei o que sou. Sei que gosto de cães e Fernando Pessoa, Não gosto de gente porque gente quer me impor rótulos e os únicos rótulos que eu suporto são aqueles que indicam a idade e o nome das garrafas de vinho porque minha boca precisa de inspiração…

A beleza da vida esta em ser mais, escrever o verso perfeito, a rima precisa, a frase desorientadora. A beleza da vida esta em aceitar, deixar ser, não julgar, andar se equilibrando na guia da calçada, sentir a areia da praia debaixo dos pés, celebrando as coisas boas e más porque uma não existe sem a outra…

A beleza da vida esta em se apaixonar por coisas novas e antigas a cada novo segundo que se apresente.
Eu sou assim e não estou nem aí se você não é diferente. Ser igual nunca foi uma possibilidade.


No entanto, hoje numa tarde chuvosa e fria de outono, eu digo:

Coisas para Lu da Su:

Bobagem é não deixar o tempo passar com medo de se perder nele. Bobagem é não absorver as palavras contadas pelo próprio tempo. O tempo é noite ou dia quando se sente ou não. Gostoso mesmo é o verso no fim de uma tarde de outono que reveste-se de inverno. Sintonia perfeita é o poema que escorre pela madrugada, sem rótulos, acompanhado apenas de sorrisos que moram longe… Rascunhos são as palavras que desprendem-se dos dedos e encontram o papel sem saber quando virarão histórias.

Mas por que eu repeti sempre essas palavras que você tão bem entende? – Não sei! Quem sabe é porque tirei os rótulos, até mesmo dos vinhos, esvaziei o tempo e sigo apenas percorrendo os espaços e sentindo a areia sob meus pés. Cansei de olhar tudo com aquela responsabilidade de gente grande, enquanto eu me sinto uma criança.

Procuro os versos perfeitos e as palavras, mas ainda não encontrei. Então deixo os rascunhos falarem pelas loucuras das minhas palavras. Às vezes eu misturo isso com música, até da certo, mas continuo na busca de estações e dos versos que não me confundem. Enquanto isso, leio Pessoa e navego pelos mares a procura de Cecília.

Eu sou assim, esse misto de confusão e solidão, muitas vezes, nem meus versos me entendem!

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