“As espumas desmanchadas
sobem-me pela janela,
correndo em jogos selvagens
de corça e estrela.

Pastam nuvens no ar cinzento:
bois aereos, calmos, tristes,
que lavram esquecimento.”

(Dia de Chuva – Cecília Meireles)

Aos poucos, as coisas estão voltando à sua normalidade. Depois do Ano novo, das despedidas, dos reencontros, do casamento, da casa e da cidade nova, as coisas estão começando a se ajeitar. É sempre essa demora para voltar ao normal, parece que 2011 terminou ontem, no entanto os ponteiros giram apressados sem saber se é pretérito ou futuro. Mas a verdade é que com o tempo não se brinca, e, com paciência e dedicação é que as coisas se reorganizam. É eu sei, eu disse que voltaria logo, mas na verdade eu precisei me adaptar a todas essas mudanças que estavam a minha volta. E parece que agora, as peças do quebra-cabeça foram montadas. Demorei, mas cheguei.

No entanto, venho em passos lentos, pois a correria continua, e como dizia o grande e querido Cazuza: “o tempo não pára”. É; realmente os ponteiros correm entre gotas de chuvas e alguns dias em que o sol derrete na pele em forma de suor, porém, parar ele não para… Em contrapartida, as palavras vão mesclando os segundos dos versos – que não param quietos – nas pontas dos dedos, e assim, as letras ganham formas e versos prontos e até mesmo práticos.

Entre ruas e avenidas, continuo a observar as paisagens que estão aleatórias aos meus olhos. Não há muito que escrever, ainda, pois as palavras estão retidas em algum lugar desse novo tempo e nas descobertas desses olhares. Então, guardo em mim mosaicos que breve receberão nomes e até mesmo cores. Por enquanto, eu enxergo pequenos fragmentos que imitam mares em noites de lua cheia. Pareço até uma criança ensaiando passos no seu caminhar.

Na disposição das palavras, reinvento outras ocupações que devaneiam entre janelas e flores e recebem as confusões da chuva numa mistura de verbos que invadem o reverso de qualquer teclado imitando o sorriso das rimas. Não há versos exatos, mas a exatidão das coisas está no entender ou não às palavras escritas.

Enfim, trago em minha derme os versos que ficaram em tantos lugares e num céu que imita saudades e respira o novo. É sempre bom voltar, com ou sem as confusões de palavras que embaralham o teclado.

Bem vindos as novas ondas que imitam MarÉs!!!

“Dia tão sem claridade!
só se conhece que existes
pelo pulso dos relógios…

(…)

– ali ficasse batendo
àquela porta esquecida
sua mão de eternidade…

Tão frenético anda o mar
que não se ouviria o morto
bater à porta e chamar…

E o pobre ali ficaria
como debaixo da terra,
exposto à surdez do dia.”

(Dia de Chuva – Cecília Meireles)

São Bernardo do Campo, 10 de fevereiro de 2012