Eu sou do tempo…
Imagem: Google

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Eu sou do tempo que – achei que nunca começaria um texto com esta frase – mas, eu sou do tempo em que as amizades eram extremamente valiosas. De um tempo em que os abraços e sorrisos eram tão frequentes quanto uma xícara de café ao acordar. Os dias podiam até parecer longos, mas, o tempo era irrisório aos ponteiros quando encontrávamos um amigo, que não víamos há dois dias, caminhando despretensiosamente pela rua. Ou então, quando a saudade batia, ficávamos horas a fio pendurados ao telefone contando todas as novidades que ele havia perdido. E o melhor, no meio daquele “converse” todo, sempre marcávamos um encontro no dia seguinte – ou até mesmo no final do dia – para atualizar todas as informações. Eu sou de uma época em que as redes sociais não dominavam os nossos compromissos, e, nem preenchiam as nossas vidas com curtidas e compartilhamentos. O botão curtir era um sorriso largo presenteado depois de horas e horas de conversas. O compartilhar? Era aquele abraço apertado, tipo “abraço de urso”, sabe?… Eram abraços que cabiam nos braços e preenchiam os corações de amigos que se reencontravam casualmente, enquanto caminhava até a padaria. Hoje, parece que estes gestos ficaram perdidos em algum lugar do passado; eu sei que ainda há muitos encontros, sorrisos e abraços… mas, as novas tecnologias embriagaram os nossos ponteiros deixando escassos alguns desses momentos.

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As redes sociais são maravilhosas sim! Não estou dizendo ao contrário. Não me interprete mal. Pois nesse mundo virtual encontramos pessoas do tempo da escola, da faculdade e pessoas que ficaram perdidas em nosso passado que a vida incumbiu de levar para os seus mundos. E é aqui, no virtual, que conhecemos tantos outros que, nem imaginávamos fazer parte do nosso grupo de amigos. Mas, o que eu estou falando é que sinto falta da espontaneidade do encontro. Esquecemos algo dentro da gaveta que precisamos resgatar. Porque algumas pessoas – algumas pessoas, ok? – moram dentro das redes sociais e não saem de lá para nada, nem para um café no final da tarde. E o curioso de tudo isso é que alguns te chamam pelo chat e escreve três palavras: “estou com saudades”… Será?! Quando estamos verdadeiramente com saudade de alguém a primeira coisa que fazemos é ligar e perguntar: “e ai, está vivo? Vamos marcar algo para ontem?” Mas, isso não acontece. Aquele que escreve “estou com saudades” não tem coragem de te ligar e marcar nada… Eu sei, são raras as exceções. No entanto, alguns podem dizer que é falta de tempo ou que está estudando demais ou que trabalho anda corrido e, tantas outras desculpas entrelaçadas que você até acredita e fica sem jeito de dizer qualquer coisa… É compreensível, pois os dias de hoje parecem mais curtos que os da minha geração. Porém uma ligação e algumas horas de conversa não atrapalhará o curso dos ponteiros. Naquela época em que eu vivi, eu aprendi que, o nosso tempo somos nós que construímos. E que ligar para alguém vai demorar apenas alguns segundos. As novas tecnologias nos aproximam, mas também deixam um vazio tão grande que até a lágrima demora cair. E tudo isso, porque os nossos celulares são apenas recursos de mensagens rápidas e pequenas palavras de saudade sem nenhum “te encontro amanhã”…

Ai agora eu fico pensando como era naquela época em que as cartas e telegramas demoravam meses para chegar. E a sensação que eu tenho é que, mesmo com os ponteiros passando devagar, esta outra espera era uma maravilha. Todo dia ao chegar em casa a pessoa conferia a caixa de correio – e não era aquela virtual, tá?! E quando as cartas chegavam, havia todo um ritual para ler… Eu me lembro de ter recebido várias missivas que, em seus envelopes, além dos postais e letras, encontrávamos carinho desenhando palavras… Como as pessoas, nos dias de hoje, conseguiriam lidar com esta saudade envelopada?! Não sei! A única coisa que sei é que o aroma dessas cartas era um abraçar atemporal.

É querido leitor, eu sei que vocês não querem ler este texto nostálgico e completamente sem poesia desta “velha” menina nova e chorona… Mas, eu precisava escrever! Confesso que eu sinto falta dos abraços e da convivência. Sinto falta do calor, da amizade, dos sorrisos e, principalmente, das horas em que muitos ficavam ao telefone contando besteiras para o amigo da outra linha. Não estou duvidando da saudade de ninguém… mas, quando a gente sente saudade – não importa o tempo dos relógios – nós construímos o nosso próprio horário e marcamos uma noitada daquelas em que os registros ficam apenas na memórias e nas conversas cheias de “piada interna”. Talvez seja por isso que, mesmo com as redes sociais, eu ainda uso o telefone para fazer ligações e canetas para escrever cartas! Ah, sem contar que – quando a saudade aperta – machucando todo o meu sentir – eu ligo para saber se está tudo bem e tenho um convite para um café na padaria mais próxima, ou até mesmo, aquela mais distante!

[Suzana Martins – 07/2015]

Imagem: derpinsel.com/

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“Há pessoas que nos falam e nem as escutamos,
há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre”.

[Cecília Meireles]