Leitura de Chuva – Cecília e Mário
Post dedicado a Menina no Sótão
“Mário de Andrade: desde que voltei de São Paulo tenho tido tanta vontade de lhe escrever e, ao mesmo tempo, a minha cabeça tem andado tão aturdida com tal espécie de coisas que eu, com franqueza, não sei, afinal, si já lhe escrevi ou não…”
Cecília Meireles
a/c Av. Atlântica, 466, ap.53“Mário de Andrade: S. Paulo absorveu-me de tal maneira que não o pude procurar para tratar do assunto do Dip, a que vagamente aludi, quando nos encontramos, na noite da conferência. Você me prometera, há tempos, alguma coisa sobre a pintura dos tetos de igrejas paulistanas, e, si lhe for possível tratar desse tema, ilustrando-o com boas fotografias, teremos o maior interesse em receber o seu artigo.
…
Lembranças cordiais de:
Cecília Meireles
Nota – Tenha cuidado com o material humano que apareça em alguma foto: voltamos ao regime exclusivamente ariano.”
Lunna Guedes: desde que voltei de São Paulo minhas letras querem chegar até ti em versos compostos em missivas primaveris, mas o tempo, esse que eu tanto questiono, tem quebrado as pontas de meus lápis, e, sinceramente, as mudanças previstas para mim também tem me apertado um pouco. Essa fase de adaptação é meio complicada, e, enquanto não consigo esse tempo de sentar e compor missivas, vou lendo palavras de Cecília e Mário que sempre me lembra você…
E assim eu sigo inventando versos em meio as chuvas que escorrem por aqui, ou, cantando com os pássaros que insistem em me acordar todos os dias. A mudança me fez bem, aqui eu tenho um contato bem mais gostoso com a natureza. O mar parece mais azul, as folhas mais verdes e os pássaros mais alegres. Há uma infinidade de pássaros por aqui, e eles insistem em fazer ninhos em meu telhado. Confesso, que às vezes, eles me irritam com os seus longos cantos, mas… me inspiram também. E o mais belo de tudo, nessa mudança, foi ver uma flor desabrochar em primaveras. Ah… isso não tenho como relatar em minhas missivas porque todas as palavras seriam vazias diante de tamanha beleza.
Estou lhe devendo algumas fotografias, mas, isso, vou arrumando aos poucos…
Suzana Martins
Trancoso – setembro/2011
Nota: Há uma infinidade de palavras rascunhadas em cadernos com seus papéis de cartas, mas o tempo tem me procurado… Enquanto isso, vamos compondo no meio do caminho…
(Imagens do site heartit.com e de arquivo pessoal)
O dia escorre chuvoso por aqui, e nesses momentos de saudade, encontro-me com Cecília e Mário em minhas leituras. Essa foi uma das maneiras que encontrei de festejar diálogos com a Menina no Sótão, essa menina que me ensinou a amar São Paulo e a admirar ainda mais Mário de Andrade. Se não encontro tempo para enviar cartas, pelo menos nos encontramos entre Solombras e páginas eternas de missivas prontas. Essa foi uma das maneiras que encontrei para tranquilizar um pouco a minha saudade: ler Cecília e Mário!
Quem me conhece, assim como você, sabe o quanto sou apaixonada pela obra da autora Cecília Meireles. Ela é uma das minhas poetas prediletas, sem comparar até mesmo, a Clarice Lispector, que tem sido uma de minhas leituras de cabeceira e primavera. Porém, Cecília Meireles, em minha vida, é prêmio o’concur tanto em suas poesias, contos, histórias e em milhares de palavras registradas em cartas e sentimentos…
E, atualmente, leio Cecília e Mário, que na beleza dos versos trocam missivas em suas saudades poéticas. O livro foi apresentado a mim, há algum tempo atrás, pela Lu e somente no tempo de agora posso ter tais páginas em minhas mãos. Ler Cecília e Mário é como brincar de versos em meio a estação; é também, convidar sentimentos para compor missivas em meio a nostalgia das cartas e todas as suas lembranças.
Autores: CECILIA MEIRELES
Gênero: Literatura Brasileira – Poesia
Editora: EDIOURO
ISBN: 8520907946 / 9788520907948
Rio, fev. 1945
Mário amigo: agradeço-lhe muito o seu livro e o do poeta expedicionário. Ando muito triste com todas as coisas, sem ânimo para lhe escrever agora. Isto é só instinto de agradecer.
Por esses dias sai o meu livro. Nunca os livros saem tão depressa quanto é preciso, para se deixar de ser o que se foi. E também não há tempo para se ser o que se quer! Não há tempo.
Ao menos, sou sua amiga!Cecília.
Pág. 309
Convido vocês, leitores, a encantar-se com as páginas de Cecília e Mário. E, Lu, esteja certa, que a minha missiva chegará até ti.
Boa leitura!
Guará Matos
Muito tudo o que você escreveu após as cartas de Cecília, demais!
Bjs.
Menina no Sotão
Suspirando fundo aqui e com o olhar vestindo um sorriso tão peculiar. Grazie carissima. Eu volto para ler com mais calma, por enquanto só posso mesmo agradecer pela lembrança e pela "presença"…
bacio
Celso Mendes
Ler Cecília inspira sempre. Ver uma flor desabrochar então… Tinha que contar para aquela Menina do Sótão mesmo…
Beijo, querida!
Luma Rosa
Ainda não li "Cecília e Mário" e ele está aqui esperando a sua hora. Li recentemente o ensaio bibliográfico sobre a presença de Cecília em Portugal. E neste livro é mencionado que foi no retorno de Cecília ao Brasil, em setembro de 1935, que ela escreveu a primeira vez à Mário, pedindo-lhe poesias para uma revista que seria lançada.
Perdeu-se no tempo a escrita de missivas e acho um luxo, você e Lunna praticarem esse exercício!
Amore, estou viajando e hoje consegui um tempinho de vir aqui deixar um beijuzinho.
Você já fez a Lu apaixonar-se por Trancoso? Este é também um pedaço do paraíso! Beijus,
Rita Schultz
repete-se a vida após tanto tempo e mais vezes, e outras, e muitas! escrever – cartas! – e alimentar o amor ao outro é um ato de sobrevivência neste dias longos em que vivemos.
que bonito, Su!
um beijo!
dade amorim
A correspond~encia desses dois é uma delícia de ler, mas ainda não consegui pegar – estão na pilha.
Beijo beijo, Su.
Menina no Sotão
Carissima, é manhã aqui em São Paulo e a paisagem de minha janela agora é outra. Não mais as montanhas. Eu também mudei. Agora tenho árvores em fila na rua que segue adiante com seus movimentos de passos e rodas. A rua se inquieta entre prédios mais altos, mais baixos. pro lado, para o alto. Prédios e suas muitas janelas. Quantas janelas eu avisto daqui onde de estou. Quantas vidas indiferentes a minha vive lá naqueles pequenos quadrados mágicos com suas cortinas coloridas.
Saudades? Essa ciência que me recuso? Sim, essa ciência imprecisa que me faz sorrir e ver além das formas impostas pela cidade. Essa ciência insana que me deixa sem rumo e me manda de volta para "casa" – esse lugar dentro de mim que poucos alcançam…
Enfim, não estou lendo Mário, nem Cecília, tão pouco Clarice, mas estou rasgando-me com palavras inéditas de escritores inéditos. É tempo de olhar para fora. É primavera, dizem por aí. Então precisa ter qualquer coisa de novo pra mim.
Amei suas linhas…
bacio