Às vezes temo pelas minhas palavras; elas, em momentos inoportunos, fogem de mim como lágrimas fugindo dos olhos. Penso, muitas vezes, que as letras não vigiam mais os meus versos tortos que um dia escrevi entre as areias de um litoral nostálgico. Percorro os versos rasgados num outono de letras tortas, e suplico reações do tempo que provoca ventanias em mim.

Numa prece ao outono, suplico versos que estão além de mim, além de todo o meu querer. Imploro pelas letras e, rezo pelas minhas palavras vazias, na certeza que todas elas serão preenchidas por sentimentos. Quero toda essa sentimentalidade que rasga a alma. Quero alcançar o lirismo sentimentaloide que interpreta estações no infinito paralelo das minhas linhas imaginárias.

Rezo. Imploro. Recito Manuel Bandeira e desfaço as palavras tortas do meu camarim de versos. Recomeço. Escrevo. Rasgo meus temporais de saudade ultrapassando o existir e não esqueço a rima, que é imprópria, e habita num emaranhado de letras simplórias, distante de mim.

As minhas palavras são preces rasgadas de outono junto ao litoral. Os meus acentos são rimas baratas escritas nas areias que exalavam maresia, onde o sentimentalismo fora entregue ao mar salgado que escorria lágrimas agridoces…

Necessito das palavras como o sal precisa do mar…