Letter #11

Saudade acumuladas em letras chuvosas…

“Uma paixão tão completamente centrada em si recusa
o resto do mundo tal como a água límpida e calma filtra todas as matérias estranhas.”

(Virginia Woolf)

Imagem: weheartit

Imagem: weheartit

Faz algum tempo que não trocamos missivas, mas isso não significa que não continuei escrevendo para ti. Tu sabes que todas as minhas letras sempre foram desenhadas com sentimentos a fim de te encontrar aonde quer que você esteja. Hoje o dia acordou frio, cheio de nuvens e muitas gotas no céu. A paisagem daqui desenha tantos mistérios, e eu sou uma desbravadora de tempos. Desejei mais do que nunca a tua presença para podermos compartilhar essa estação que é tão minha. Mas o seu calor, infelizmente, não chegou até mim; e assim, comecei a desenhar letras na vontade de ter a tua derme sobre a minha.

Folheei o nosso livro que ainda continua na escrivaninha e, por acaso, descobrir milhares de letras tuas que, num dia de sol, chegaram até mim. As tuas lágrimas estavam tristes e rancorosas, havia uma mistura de sentimentos dentro delas. Acredito que toda essa confusão foi porque num tempo qualquer, escrevi sobre algumas ausências e, dentro delas não grifei seu nome. Eu sei que algumas vezes eu tento esconder saudades, mas, quem foi que te iludiu que eu não sinto saudades de ti? Quem disse que eu apaguei momentos de nossa história? Por mais distante que seja o tempo, por mais apagada que estejam às letras, a sua ausência provoca erosões, que parecem as terras do sertão.

Eu sei que às vezes nós nos perdemos entre tantas palavras, porém, as minhas letras reclamam nas entrelinhas uma presença que ora aparece entre abraços, ora em aromas que só eu sei de onde vem. E falando em perder, hoje estou perdida numa paisagem nova. Não escrevo mais olhando para o mar, há outros olhares que me distraem. Eu sinto falta da brisa com cheiro de maresia, mas, agora, encontro-me em outros mundos descobrindo subversos nas estações. Agora as pessoas que passam por mim são meros desconhecidos com histórias, que quem sabe, parece com a nossa. Às vezes, quando me perco no meio do caminho, eu te procuro na ânsia de poder lhe abraçar e sentir novamente o seu cheiro reconfortante…

Eu sei; isso é saudade. E eu espero que tu saibas que essa é a ausência que mais me incomoda. Porém, eu gosto das coisas que incomodam principalmente as letras, pois quando elas nos deixam inquietos é porque gritam na alma. Acho que ando lendo Virginia Woolf demais, pois cada palavra dela me deixa inquieta, e eu sei que você também se sente assim. Lembro-me uma vez em que ficamos por horas lendo e relendo cada verso dela. Era um dia assim: com chuvas e ventos por todos os lados; sinto saudades desse dia, mas sinto mais saudades ainda de ler Virgínia ao seu lado.

Não tenho mais palavras que caibam aqui. Como sempre, a minha missiva virou uma confusão de sentimentos que só tu és capaz de entender. Quantas entrelinhas nós já rabiscamos? E quantos versos ficaram por dizer? Chove, e as minhas letras escorrem em cachoeiras de saudade. Chove, e nos meus olhos há uma ausência perdida em ti…

“Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora;
e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro”. 

(Virginia Woolf)

Deixo aqui um abraço molhado de lágrimas e chuvas.

Fico a espera de um abraço no papel, pois assim saberei que as minhas palavras incomodam.

Até.

Alguém.

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