Letter #13

Pontos e vírgulas… letras num dia qualquer.

 

Chorei. Derramei rios de lágrimas quando recebi as tuas palavras. A tua missiva chegou até mim num final de tarde em que o vento brincava com as ondas. Lembro-me que o mar, daquele dia, estava lindo. Chorei novamente quando percebi que tu não estavas ao meu lado para contemplar aquele espetáculo. Se eu fechar os meus olhos agora consigo visualizar a paisagem daquele dia. Parecia até um poema inacabado; ouso dizer que era o Mar Absoluto da Cecília Meireles… Quando as tuas letras chegaram até os meus olhos, pude perceber que, as ondas quebravam na areia respingando a nostalgia do tempo; o sol chorava a despedida das cores, e o mar, num azul-petróleo divinal, escrevia saudades na maresia do sentir. Até uma gaivota solitária sobrevoou o oceano gritando aos quatro cantos do mundo a sua liberdade em asas.

 

Diferente do colorido daquele dia, hoje tudo está amarelado. Culpa do verão que chegou rasgando a terra com a secura do sol. Eu não gosto desta estação. Acho que tudo fica muito mais abafado e sem vida. As cores ficam desbotadas e a terra, num lamento desértico, implora pelo abraço das águas em seus beirais. Até o mar, em dias amarelecidos, prolonga as suas tempestades. Não consigo sequer rascunhar um poema. As minhas letras parecem até um emaranhado de gente andando de um lado para o outro sem saber aonde chegar. Então, peço, perdoa-me! Hoje os versos soam confusos e incoerentes.

 

Sorvo um gole do meu chá gelado e lembro, mais uma vez, das tuas palavras derramadas num pedaço de papel… Eu sei! Tu precisas de respostas!

 

A tua missiva chegou por aqui no verão passado. Mas não pense que, durante todo este tempo, eu me esqueci de ti. A verdade é que, eu não escrevi antes porque as minhas letras ficaram estacionadas em sentimentalidades baratas. Não respondi antes porque os meus poemas estavam ancorados num porto solitário. Fiquei em silêncio porque a tua ausência pulsava em mim… Eu ainda não aprendi a sobreviver sem a tua presença. Embriago-me de saudades todas as noites e o oceano é a minha única companhia.

 

As coisas por aqui não mudaram muito. Ainda deixo a porta aberta. Bebo vinho barato. Rabisco letras. Conto estrelas e invento metáforas. Está tudo igual. Eu só alcanço as mudanças quando vou caminhar na areia e percebo que as minhas pegadas ficaram solitárias. Restam apenas as lembranças tatuadas em mim, tal qual porta retrato na estante.

 

A saudade é o que sobrou…

 

O resto tu sabes de cor: o barco, ainda, está a tua espera e a maresia tece um poema que suplica um abraço teu…

 

Imagem: tumblr

Imagem: tumblr

Ps.: O sol, quando amanhece, reflete sentimentalidades coloridas no mar…

Abraços marítimos,

Outro Alguém

 

Quer ler as outras cartas? É só clicar aqui! (link)