No cais, ao entardecer, te vendo passar…


Hoje eu te vi passar pela rua em direção ao pier…

Depois de tanto tempo sem qualquer encontro, ou olhares trocados em meio à multidão, eu te vejo ali, sem se preocupar com o tempo, de braços dados com o vento, perdido em meio à paisagem que surgia no horizonte…

Eu te vi de longe.

Meu coração fez festa dentro do peito, quando te vi ali contado quantas nuvens cabem dentro de uma tempestade. Como sempre, tu estavas leve, suave. Usava a sua calça jeans rasgada, a sua camiseta branca e o seu all-star vermelho. Tu estavas com os cadarços desprendidos das amarras de horários combinados e reuniões estressantes.

Leve, sem pressa…

Estava simplesmente ali, perdido no tempo e achado nos espaços de suas canções cheias de vendavais e devaneios… O vento, simpático comigo, trouxe para perto de mim o seu delicioso e refrescante aroma.

Como foi bom te ver e te sentir, longe e tão perto, parado ali. Seu corpo exalava o perfume do mar, um delicioso cheiro de maresia, de brisa ao entardecer… Tu estavas parado, em ‘nosso canto’, olhando para o infinito, encontrando-se com o nada que estava cego sem observar o meu distante olhar…

Lembras que ficávamos horas e horas conversando, cantarolando e observando as estrelas chegarem ao anoitecer? Quantas tempestades nós vimos formar em alto mar nas tardes de verão?

Eu não sei onde nós nos perdemos, mas em algum lugar daquelas cartas que trocávamos em nossos olhares presos no infinito, havia um encontro, ou pelo menos fingíamos isso: “Te espero no meio da chuva…” – As missivas falavam assim…

‘O nosso cais’… O encontro das estrelas com a noite e do mar com o crepúsculo…

E hoje, depois do silêncio das missivas trocadas, te vejo ali, parado observando o mundo de um ângulo diferente do meu…

Provavelmente você estava ouvindo música e pensando em algum momento especial, pois mesmo de longe, eu vi um sorriso no canto do seu rosto estacionando as preocupações diárias e divagando por lugares distintos ou secretos.

Sua tímida alegria, naquele momento, caminhava num mar de estrelas ou num quadro abstrato que eu não conseguir descrever… Quem sabe tu contas para mim os seus pensamentos daquele dia em alguma nuvem de letras… (?)

Não sei!

Nem sei se essa missiva encontrará o seu olhar. Sei apenas que te vi, ao longe, no cais, observando o horizonte… E mesmo distante a te observar, tive a sensação de que as nuvens que te abraçavam cantavam pra ti canções que foram compostas ao luar no avesso das estrelas…

E no meio das nuvens, dentro da chuva de uma tarde de verão, meus olhos encontraram os seus leves passos a observar o horizonte que ensaiava uma tempestade…

Sinto o cheiro de terra molhada, mas não sei se são lágrimas que caem dos olhos molhando o meu seco coração, ou se são as gotas de chuva molhando a terra seca desse verão insípido e sem cor…

Até o próximo encontro num olhar perdido.

Com amor e saudade,

Alguém!

Leia as cartas de Alguém e Outro Alguém, clicando nesse link aqui, e saiba como tudo começou…