Missivas de Primavera – melancolias

Experimenta a suave melancolia de uma manhã feliz

Perdoa-me por escrever-te apenas hoje. Esta missiva deveria ter chegado a você nas primeiras horas do ontem, mas o tempo passou e eu simplesmente perdi a data que marcava o calendário.

Tenho a estranha mania de perder as datas ou trocar a ordem das coisas, e quando os alarmes falham me pergunto o porquê de não ter deixado anotado. Os analógicos nunca erram, rs.

A manhã passou melancolicamente por aqui. Mergulhei em algumas lembranças de outros pretéritos e fiquei a apreciar a fumaça do chá quente a misturar com a garoa que se estende pelo quintal. A rua está em silêncio. Até os pássaros estão escondidos em seus ninhos.

Vez ou outra um carro passa e interrompe a quietude das coisas.

Gosto de observar o cinza e outras nuances nesses tempos de quase primavera. O verde salta aos olhos em seus diversos tons e desperta em mim nostalgias suaves. Alguns botões começam a enfeitar o jardim e perfume suave da relva molhada confunde com o aroma do dia amanhecido. Lá longe, em outros quintais, pequenos brotos estão a nascer em árvores adormecidas.

É a beleza do final da estação a confundir as intempéries.

foto-de-suzana-martins-missivas-de-setembro-1 — As árvores do final da rua a ganhar novas folhas

Os dias chuvosos mexem com as minhas paisagens internas. Mergulho em memórias carregadas de ilusões e fico a recolher palavras em páginas de outros livros e canções. A melancolia dos dias de inverno é o que alimenta a suavidade do meu ser. As gotas de chuva a enfeitar a paisagem brinca com o meu humor em todos níveis.

Sou solar, mas preciso de doses chuvosas para aguçar as minhas nostalgias e alguns sorrisos melancólicos.

Deixo pra ti a paisagem do hoje que reflete os caminhos molhados do ontem.