Quero escrever
no avesso da folha
a palavra incorreta,
o verso derramado
o sentir errado
sem ter medo
do que é revelado.

Quero revirar-me
ao avesso, sem verso ou reverso
no inverso do meu universo em mim.

Quero dizer o som mudo,
o poema calado,
o pulsar que ficou guardado
a espera do fim.

Cansei de ser certa,
de ser letra,
de escrever versos tortos,
de ser verso perfeito,
de ter frase escondida
nas entrelinhas do soneto.

Quero escrever
poemas nunca revelados,
calados, desenhados em mim.
E nesse querer,
de tanto escrever
você não estiver ao meu lado
recitando um poema encantado;
escolho a palavra incorreta,
ou o olhar perverso,
no poema escrito
na folha perfeita
na beira do verso.