O DIA de todas as estações

Era inverno, mas as gotas de sol ardiam à pele imitando um verão daqueles que não se pode, de maneira alguma, ficar longe da praia. É difícil imaginar, pelo menos para mim, um agosto tão quente em São Paulo. Mas, sábado (25/08) foi um dia assim. Não havia um vestígio sequer de inverno, nem o céu respeitou a estação, muito menos o vento. Era verão. Naquele dia eu poderia afirmar, sem qualquer dúvida há habitar em mim, que era verão.

Foram dias e dias de preparação até chegar ao estágio final: O Lançamento! Tinha medo de não dá certo, aparências tensas e, tantas outras coisas acumuladas, que sentia o sangue correr pelas minhas artérias. Mas, no final, foi tudo perfeito! Encontrei pessoas maravilhosas, conheci tantos outros rostos que me fazem bem só de lembrar o sorriso estampado na face. Abracei alguém mais que especial para mim e, depois de tudo, gargalhei muito. Afirmo, repito, reafirmo, grito: FOI UM DIA MARAVILHOSO!!!!!

Aeroporto de Guarulhos
31 de Agosto de 2011
13h45min

As despedidas machucam alguns sentimentos que se prendem em determinadas estações. Não sei ao certo o que seria bom ou ruim em determinados momentos, mas digo que despedir é algo que machuca além da alma. São lágrimas que escorrem em momentos que ficam distantes do presente, e, absorvem um pretérito de sensações. Todos esses dias se transformam em porta retratos de uma estante de saudade, num instante vivido e apreciado em todos os detalhes…

Devo sofrer de alguma lágrima precoce, pois o meu coração dispara numa saudade desenfreada de versos abstratos e contemporâneos, quando as despedidas se aproximam de minha derme. Na tranquilidade dos momentos descubro-me em meio a certos pontos de partida que se petrificam dentro de mim. Abstraio-me num sentir povoando até a sétima conduta de um viver eterno e propagando as circunstâncias. Queria apenas as letras adjacentes de um plural ilógico.

Despedir é algo que não deveria existir em nosso tempo verbal. A despedida sangra o coração arranhando as entranhas e a derme, que sente a ausência fotografada em rimas fáceis… Encontro-me aqui, num saguão de aeroporto distanciando do ontem e pensando num amanhã que escorre dos meus olhos imitando as lágrimas de um pretérito bem vivido.

Não sei se seria muito trágico apagar certas palavras dos verbos, mas sei que o sentir não se apaga, pois as memórias ficam vivas num final de tarde ao tocar aquela canção que o vento sussurrou nas ruas da paulista. Não tem como não viver certos momentos, nem como despedir de uma saudade que se prepara para outra longa saudade de tantos outros momentos…

Havia muitas nuvens no céu quando cheguei aqui, e há tantas outras nuvens enquanto me despeço. Acredito que não ver a cidade ao embarcar e desembarcar é sinal de que despedir daqui é algo impossível. O adeus em meio aos versos dialogados num solitário caderno de páginas amarelecidas, não pode ser escrito quando não se vê a cidade. Não me conformo em não ver São Paulo de cima, mas me conformo em não precisar despedir desse mundo que habita dentro de uma única cidade…

São Paulo conseguiu me encantar com um simples vento garoado numa Paulicéia escrita por Mário de Andrade em suas cartas a todos nós. Ouso dizer que Mário escrevia pra mim, e hoje, conheço e admito que eu sou completamente apaixonada por São Paulo, porque ele um dia, há muito tempo atrás, resolveu compor tantos versos que serviriam para eu conhecer essa metrópole que vive dentro de um mundo de versos que são apenas meus.

Não serei egoísta em guardar tudo isso dentro de um livro de duas páginas, mas tentarei escrever os outros poemas deixados num caderno que ficou no meio do caminho… mora em mim todos os anseios e descobertas dessa cidade que me conhece pelo avesso.

São Paulo que está dentro de mim…

Imagem: arquivo pessoal

Texto interpretado pela atriz Fabiana Tenório

Suzana Martins – Última página – pág.77, 78

Emoções não se explicam, apenas demonstramos em abraços, sorrisos, lágrimas e na pele arrepiada. Traduzir letras aqui seria clichê, eu sei; eu sou clichê! Mas, as letras não se encaixam quando as imagens e emoções falam por si!

Imagem: arquivo pessoal

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Arquivo Pessoal: as autoras

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Arquivo pessoal: a dedicatória

Muito obrigada a todos que estiveram presentes, e aqueles que talvez, devido à distância, ao trânsito e por variados motivos, não puderam está presentes. Mas, mesmo assim, muito obrigada pela energia depositada. E claro, obrigada a minha família, aos meus amigos, aos músicos, a produção, aos artistas e as minhas queridas companheiras de estações. Sem vocês, nada disso teria acontecido!!

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