o ontem a rasgar no agora

Sob o estranho olhar perdido no ontem
encontro-me imersa no que fui há pouco
e não reconheço o meu reflexo.
Na pressa dos ponteiros sem métrica
na passagem ilusória de uma canção
que toca vazia no rádio
deixo fluir a existência concreta
que perambula em meus beirais.

Nas estranhezas do hoje
no vazio absurdo da presença
resoluta
destemida
pronta para extinguir momentos,
rasgo as certezas
mergulho-me nos afagos
faço nota mental
e registro no canto do verso
pretéritos ativos
memórias ininterruptas
e geografias escondias
em minhas lembranças.

Forasteira no agora
permito-me caminhar
sob a melodia
metafórica ao tempo.
Deixo-me ser levada
pelos ponteiros acústicos
a revestir de nostalgia
e a explodir na imensidão
geométrica do meu existir.

Suzana Martins