Não tenho mais as mesmas palavras de antes; não escrevo mais nas areias de um deserto solitário tecendo milágrimas em mim. Não rabisco mais versos nas ondas que se formam no mar… Sinto os meus dedos bloqueados de sensibilidade quando encontram o teclado. Aquelas melodias, que nada tinham de inócuas, não produzem mais a mesma frequência de notas que encantavam o meu coração.

As palavras, num sussurrar mudo, imita um silêncio abstrato de tantos sons que entram pela minha janela. Trago em mim overdoses de letras misturadas, que parecem demônios surdos. Estes demônios não pedem a melodia do mar, nem das rosas, eles suplicam uma solidão carregada de medos que está além de mim.

O silêncio das minhas letras atravessam mares imitando de notas musicais, mas, as palavras não dançam. As letras já não fazem tanto barulho, as palavras despertam em minhas entranhas um silêncio tenebroso, sombrio, cerrado. Esta é uma solidão que eu temia acontecer dentro de mim. Temo a solidão de palavras que mesclam um paralelo confuso em minha derme.

O silêncio que agora está ao meu lado reinventa histórias no propósito de que eu mesma o enfrente; preciso aprender suportá-lo, tenho a necessidade de dividi-lo em versos e transformá-lo na melhor parte de mim.

A grande verdade é que ele faz mesmo parte de mim. Preciso de silêncios e solidões que investigam as minhas dóceis, duras e confusas letras. Mas, trago em mim todos os medos destes sons silenciosos, no entanto, temo pelas minhas contradições que se encaixam no meio do poema mal dito.

Tenho medo do medo apodrecer as minhas letras; essas letras que agora nascem no meio do espaço e na metade do tempo que corre paralelo ao sem fim. Grito em ecos e jogo fora as letras que escorregam entre os meus dedos provocando barulhos intermináveis. Rabisco os demônios das palavras incertas e rasgo-os em metades inteiras.
Preciso esquecer a solidão dos medos e reinventar os sons silenciosos que imitam as poesias de Álvaro de Campos.

E, assim, jogando fora os mesmo, cubro-me de lágrimas que cantam versos a beira mar. Recrio pretéritos que imitam o presente em devaneios de tempestades. E, mesmo que a melodia não seja a mesma, deixo que ela se espalhe de dentro para fora, e, num pulsar atento picho os muros com as tais palavras poéticas que não me atormentam mais.