Pelo dia Nacional do Poeta

Fingimos muito bem ser poetas num invisível mundo de rimas.


“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

(Fernando Pessoa)

Na beleza dos versos, ressoando o íntimo de sua alma, Pessoa descreve, ou pelo menos tenta descrever, a intensidade de palavras vividas pelos poetas que encerra-se em versos numa continuidade do sentir.

Ele escrevia sobre si, e tantos ‘eus’ que pseudonimamente, moram em suas confusões verbais no escrever poesias e vivê-las. Fingia ser tantos em um único palavrear; mas ele era muitos, eram todos… Pessoa, em suas pessoas, se completava na imensidão de verbear e sentir.

Numa tentativa poética de descrever as sensações de um escritor de almas, ele finge entender e finge descrever um sentir que não se explica, apenas vive… sente.

Não há um manual que ensine a ser poeta, nem cursos que direcione autores em “como escrever com a alma e sobre ela”. Não há traduções literárias para viver em poesia.

É simplesmente fingir, escrever, sentir, traduzir palavras em versos que automaticamente escorrem pelos dedos num encontro memorável com o papel.

Ser poeta é viver na rasura de letras abstratas ou na melancolia de uma metáfora sem fim.

Nem sei se sou poeta. Finjo, talvez, mas enquanto isso, vou rabiscando um punhado de versos que exalam da minha derme. Se não conseguir ser poeta, sigo lendo, pois o leitor, em sua sensibilidade também é poeta.

“E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”

(Fernando Pessoa)

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Feliz dia do Poeta, para vocês: poet’amigos e leitores de almas!!