Ele estava sobre a linha imaginária do globo, entre os meridianos, apenas observando o tempo passar. Embora fosse pequeno, tinha a sensibilidade de entender que do lado de fora do seu mundo às pessoas corriam para lá e para cá, desesperadas, e não conseguiam enxergar nada a sua volta. Era um garoto triste, solitário, mas que carregava dentro de si sonhos e alguns vestígios de esperança.

Vivia num lugar onde os enfeites celestes eram bombas e não arco-íris, muito menos nuvens de algodão doce. Todas as cores e os adornos que apareciam, eram encontrados apenas no fundo dos seus olhos. Tentava esquecer aquela imagem de mortos e feridos. Era preciso ter paciência! Sonhava com humanidade, perdão…

A dor, a violência, desunião dava a entender que aquele desespero humano era normal. O mundo girava e entre os poucos sorrisos ao seu redor, ele conseguia resgatar indícios de que ainda existia amor. A vida não para, ela continua girando cada vez mais veloz. E com a sua pureza infantil, ele nunca perdeu a delicadeza em seus sentimentos. Buscava alegrias, acreditava em seus sonhos e tinha a certeza de que a união iria calar o sofrimento.

No seu imaginário podia brincar, correr, sorrir, observar o mar e tentar de alguma forma sentir a paz que o vento produzia. Queria ter o poder de parar o tempo e fazer com que todos saboreassem os pequenos detalhes da vida. E por um momento, as ondas abafaram os sons das balas que pulavam por cima de si. Ele, olhando do alto, pedia alma, pedia calma, pedia paz!


Não entendia muito bem porque tudo aquilo acontecia, mas aprendeu uma única coisa: “quando a guerra chega até nós, é preciso sonhar, imaginar e nunca perder a esperança de encontrar o amor.”