Rabiscos do inv(f)erno
Por Suzana Martins e Dulce Miller
Anoiteceu inverno. Amanheceu uma estação qualquer. Ela não percebeu que o dia havia chegado. E assim, descobriu que tinha se exilado entre muros rendilhados. Abriu os olhos. Sua derme sentia a delicadeza da brisa fria que soprava entre aquelas paredes que havia criado. Ali, criou uma falsa noção de que seria fácil derrubar as barreiras à sua volta. Tentou levantar. Caiu. Sentiu a delicadeza dos muros. Não permitiu que seus olhos alcançassem aquela estação que adoçava a sua alma. A oscilação da vontade contrariava o querer. Fechou os olhos. Sonhou acordada e elevando a alma redescobriu ser inverno e mergulhou na doce ilusão de que todo o prazer, todo o conforto podia existir dentro dele. Esqueceu os muros até o momento em que a erosão desfez todas as paredes.
Naquele instante, deixou-se ficar sentada, com seus braços envolvia os joelhos, como que protegendo algum tesouro ignorado. A luz lá fora era demasiado crua, cinza feria-lhe os olhos e a pele. Com um pedaço do muro, já quase pó, guardado na mão, permitiu sentir a estação e caminhou devagar para fora. Andando passo a passo entregando o corpo e alma ao inverno, que ao longe lhe estendia as mãos.
De súbito parou na porta sentindo o vento gelado cortando seu rosto delicado, neblina densa, intensa, parecia querer absorver sua alma inteira. E quem se importava? Não ela. Respirou fundo, sentou-se na calçada riscando o chão com o último pedaço de seu muro sagrado, fazendo alusão à sua inerente solidão. Riscou passado, presente e futuro, riscou o coração. Riscou tanto e tanto, virou borrão, poeira de giz em sua mão.
Onde estaria quem roubou seus abismos, quem levou para longe seus abrigos, abraços amigos… ela pensava e não concordava com o destino imposto. Sujeito-verbo-perfeito, sonhava acordada, sentia a conjunção das peles, relés corpos enlouquecidos pelos beijos entorpecidos de tanto querer e não puderam mais esquecer. Um em cada (en)canto, cada qual com seu pranto. Seria mesmo assim? Que fosse perfeito enquanto ilusão. Por que não?
Voltou para seu exílio, suas dúvidas e muros rendilhados que a protegiam do mundo. A sua alma fazia aquecer o inferno do seu inverno interior, não importava a estação.
Allisson Franklin
De repente, não mais que de repente…
Melhor uma ilusão perfeita do que uma realidade imperfeita…
Abçs
Suzana Martins
Allisson,
Muito obrigada pela sua visita e comentário!!
É, as ilusões perfeitas são bem melhores que as realidades imperfeitas.
Abraços!!
Suzana Martins